Agentes do Kremlin tinham rede de espionagem "à escala industrial" no Reino Unido
Três búlgaros foram declarados culpados por um tribunal de Londres, na sexta-feira, pela participação numa sofisticada rede de espionagem sediada no Reino Unido, que visava jornalistas e transmitia informações sensíveis à Rússia durante três anos.
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Katrin Ivanova, 33 anos, Vanya Gaberova, 30 anos, e Tihomir Ivanchev, 39 anos, residentes em Londres, foram condenados por conspiração para espionagem no tribunal de Old Bailey, em Londres, no final de um julgamento que durou mais de três meses. Espiaram indivíduos e locais “que eram de interesse para o Estado russo”, de acordo com o Crown Prosecution Service (CPS), responsável pelos processos judiciais na Grã-Bretanha.
A espionagem a mando de Moscovo teve lugar durante três anos, entre agosto de 2020 e fevereiro de 2023, segundo o tribunal. Ivanova foi também considerada culpada das acusações de posse de documentos de identidade falsos com intenção imprópria. A sentença deverá ser proferida em maio, podendo ser condenadas a penas de prisão até 14 anos.
O comandante-chefe da polícia metropolitana contra o terrorismo, Dominic Murphy, disse à agência noticiosa PA que se tratava de um caso de “espionagem à escala industrial em nome da Rússia”.
“Este é um dos maiores e mais complexos exemplos de um grupo que trabalha para um Estado estrangeiro para efetuar operações de vigilância de informações aqui no Reino Unido”, acrescentou Murphy.
O três agora condenado faziam parte de uma rede de espionagem composta por seis búlgaros, incluindo o líder Orlin Roussev, 47 anos. Roussev e Bizer Dzhambazov, 43 anos, já se tinham declarado culpados de espionagem, bem como um sexto arguido, Ivan Stoyanov, 32 anos.
Jornalistas visados
A célula de seis pessoas tinha como alvo jornalistas e um ex-político cazaque, e planeava raptar e apanhar os alvos, seguindo-os por várias cidades europeias. O grupo planeou “atividades perturbadoras” na embaixada do Cazaquistão em 2022, discutindo um plano para pulverizar o edifício com sangue de porco falso.
No mesmo ano, também efetuou vigilância numa base militar dos EUA na Alemanha.
De acordo com o CPS, “compilaram relatórios pormenorizados sobre os seus alvos e receberam somas significativas de dinheiro pelo seu trabalho”.
O cabecilha Roussev recebeu instruções de Jan Marsalek, um fugitivo austríaco que terá escapado para a Rússia em 2020, depois de se ter tornado um homem procurado na Alemanha por alegações de fraude. Marsalek, antigo diretor de operações da empresa de pagamentos Wirecard, atuava como representante dos serviços secretos russos, segundo o CPS.
Uma operação de espionagem teve como alvo o jornalista de investigação Christo Grozev, do site Bellingcat, que descobriu as ligações russas ao ataque com a arma química Novichok, em 2018, na cidade inglesa de Salisbury, e ao derrube de um avião da Malaysia Airlines, quatro anos antes.
Outro centrou-se em Roman Dobrokhotov, um jornalista de investigação e dissidente russo baseado no Reino Unido que fundou o site "The Insider".
“Tratou-se de uma operação de espionagem de alto nível com recompensas financeiras significativas para os envolvidos na rede de espionagem”, afirmou Frank Ferguson, do CPS.
“Esta atividade prolongada também prejudicou a segurança e a proteção do Reino Unido e não há dúvida de que cada um dos arguidos sabia exatamente para quem espiava”, acrescentou Ferguson.