O número de corpos recuperados do naufrágio de um pesqueiro sobrelotado com migrantes, há quase uma semana, ao largo da ilha grega de Peloponeso, subiu para 81, confirmando-se 105 de sobreviventes e meio milhar de desaparecidos, mantendo-se as discussões sobre as responsabilidades das autoridades helénicas no desastre.
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Embora as operações de busca e salvamento prossigam nesta terça-feira, empenhando uma fragata, um helicóptero e três navios, as autoridades consideram pouco provável encontrar mais algum sobrevivente, depois de na noite de segunda-feira terem encontrado três cadáveres de homens, a 47 milhas náuticas (cerca de 87 quilómetros) ao largo de Pylos, próximo do local do naufrágio, ocorrido na quarta-feira da semana passada.
Dos 104 sobreviventes identificados, sabe-se que 47 são sírios, 43 egípcios, 12 paquistaneses e dois palestinianos. A CNN Grécia fala em 105. Com mais cerca de 750 ou 800 – as versões variam – , terão embarcado em Tobruk, no leste de líbia, numa traineira que zarpara do Egito, com destino a Itália, segundo as autoridades helénicas.
A descoberta dos corpos tantos dias depois do naufrágio foi considerada "inesperada e encorajadora" pelas autoridades marítimas gregas, que garantiram que a operação, inicialmente prevista para perminar no sábado, deverá prosseguir "pelo tempo que for necessário", segundo o diário britânico “The Guardian”.
Mantém-se, no entanto, a polémica sobre a conduta das autoridades helénicas, por terem tardado a lançar as operações de busca e salvamento aquando do naufrágio, pois foram alertadas para a situação do navio cerca de 15 horas antes de voltar-se.
Dados de navegação contrariam a tese da Guarda Costeira
A Guarda Costeira chegou a alegar que, quando a embarcação sobrelotada foi avistada por uma aeronave, a tripulação deu indicação de que não necessitava de ajuda e que não se encontrava em perigo.
Pouco depois, o pesqueiro voltou-se. Uma análise aos dados do portal de navegação marítima Marine Traffic feitos pela cadeia de televisão britânica BBC parecem indiciar problemas de rumo e que o barco esteve horas sem mover-se, contrariando a afirmação da Guarda Costeira segundo a qual a embarcação mantinha uma direção constante e que chegou a navegar 24 milhas (cerca de 44,5 Km).
Por sua vez, a agência europeia de fronteiras (Frontex) informou ter contactado as autoridades gregas e italianas para a presença da embarcação nas águas do Mediterrâneo, mas não houve intervenção da guarda costeira daqueles dois países da União Europeia.
A correspondente do “Guardian” na Grécia relata a angústia de familiares na procura desesperada de notícias, quanto mais não seja do achado dos cadáveres. “Na nossa cultura, na pior das hipóteses, tudo o que um parente quer fazer é enterrar um ente querido”, disse Shahid Nawas, um refugiado que lidera a comunidade paquistanesa de 30 mil pessoas no país, estimando em mais de 400 concidadãos a bordo do barco, dos quais apenas 12 estão entre os sobreviventes.
Entre os sobreviventes, as autoridades identificaram nove pessoas de nacionalidade egípcia, com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, como presumíveis responsáveis pelo transporte dos migrantes, que terão pago entre quatro mil e seis mil euros cada um. Tendo comparecido nesta terça-feira perante o procurador em Kalamata, os suspeitos negaram terem tripulado o barco.
"É importante agir com medidas concretas"
"É horrível o que aconteceu e, de momento, o mais urgente é que ajamos com medidas concretas e pragmáticas", afirmou nesta terça-feira a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen.
A propósito, acrescentou que o pragmatismo da União Europeia (UE) deve verificar-se, por exemplo, na "assistência macrofinanceira" à Tunísia e a colaboração com as respetivas autoridades, por o país estar nas principais rotas de migrações e de tráfico humano para a Europa.
Salientando que o novo Pacto para as Migrações e Asilo "está a avançar", Von der Leyen defendeu a necessidade de “regras igualitárias para que qualquer pessoa que chegue a uma fronteira europeia seja tratada da mesma maneira, com solidariedade, por todos os Estados-membros, que cuide dos refugiados e das pessoas elegíveis para requerer asilo".