
As revelações de Edward Snowden afetam a diplomacia mundial
Reuters
A Alemanha confirmou, esta sexta-feira, a revogação de um acordo de transferência de informações que mantinha desde 1968 com os EUA e o Reino Unido, na sequência do escândalo causado pelos programas de espionagem norte-americanos.
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Em comunicado, divulgado sexta-feira, pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, o chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, refere que a decisão de revogar esse acordo tornou-se "necessária e apropriada" devido ao forte debate que suscitaram no país as revelações sobre os vários programas de espionagem norte-americanos no mundo.
As revelações feitas pelo ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana Edward Snowden não caíram bem na Alemanha, tendo o governo liderado pela chanceler alemã, Angela Merkel, pedido explicações a Washington.
O debate na sociedade alemã subiu de tom quando Snowden, em declarações à revista "Der Spiegel", disse que os serviços de inteligência alemães (BND) sabiam dos programas de espionagem dos EUA, que vigiaram as comunicações de milhões de cidadãos norte-americanos e europeus, mas que não informaram os decisores políticos.
"A revogação do acordo administrativo, pelo qual nos temos vindo a bater nas últimas semanas, é consequência do recente debate sobre a proteção da privacidade necessária e adequada", esclarece Westerwelle em comunicado.
A mesma nota refere que o acordo, assinado em 1968, foi cancelado por "mútuo acordo" com Washington e Londres.
A imprensa germânica explica que no âmbito do acordo, o então governo da República Federal da Alemanha (RFA) se comprometera a levar a cabo uma monitorização do território e das suas telecomunicações, e de fornecer essas informações aos aliados da Segunda Guerra Mundial.
O mesmo acordo previa ainda que os serviços de inteligência ocidentais pudessem requerer atividades de monitorização e espionagem a fim de garantir a segurança das tropas estacionadas na Alemanha.
Após as revelações de Snowden, o governo da chanceler Angela Merkel tinha explicado que esse acordo já não era aplicado desde a reunificação da Alemanha, e que desde meados de julho Berlim estava a levar a cabo diligências para garantir a sua revogação.
Os programas de espionagem foram um dos temas abordados durante a recente visita do Presidente norte-americano a Berlim. A chanceler alemã sublinhou que conversou "longa e detalhadamente" com Barack Obama sobre o assunto.
"Prezamos a cooperação com os EUA sobre questões de segurança", afirmou Merkel, citada pela imprensa alemã.
"Também deixei claro que a questão do equilíbrio é sempre importante" e que era necessário perceber até que ponto os cidadãos alemães era afetados, acrescentou.
Angela Merkel adiantou ainda que Berlim e Washington acordaram que essa questão seria esclarecida numa cooperação entre representantes de ambos os governos.
