A crise económica está a empurrar cada vez mais portugueses para a Alemanha. Só no ano passado, foram quatro mil, um aumento de 43% face a 2011. Atualmente, serão cerca de 150 mil os portugueses que trabalham naquele país.
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Um deles é João Cunha, de 30 anos, formado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade do Porto. Vive desde 2009 em Mönchengladbach e trabalha numa empresa metalúrgica.
Moveu-o a crise económica, mas também o facto de se ter apercebido do "potencial de crescimento/aprendizagem tanto a nível profissional, como a nível pessoal", explicou, ao JN, por e-mail.
De início, estranhou a forma algo fria de se relacionar dos alemães - "tão diferente da maneira de ser portuguesa" -, mas rapidamente se habituou. Incomoda-o apenas que os alemães comparem os portugueses aos espanhóis, embora sublinhe que "não é por mal".
Foram também razões de ordem económica que levaram a família de Avelino Barbosa, de 57 anos, a emigrar para Rheime, em 1970. Primeiro os pais e os irmãos, depois este antigo trabalhador têxtil natural de Vila Verde, na altura com 14 anos.
Reformado há um ano e meio, não pensa regressar. "A minha vida está aqui", justifica. Tal como João Cunha, também acha que os alemães são "pessoas frias", mas esclarece que se dá melhor com eles do que com os portugueses. "Eles não se metem tanto na vida dos outros", diz.
Avelino Barbosa não esconde a sua admiração por Merkel. "Os portugueses não deveriam gastar o que não têm. Quando vou a Portugal, vejo sempre os restaurantes e os cafés cheios", critica.
André Uerba, de 30 anos, vive desde março em Berlim, onde frequenta um mestrado em Dança. Não é a primeira vez. Em 2011, viveu nove meses na capital e, há 12, dois anos em Colónia.
Conta que os alemães não têm noção daquilo que "os portugueses estão verdadeiramente a sofrer" e que não percebem como há tantos casos de má gestão de dinheiro e de corrupção em Portugal sem as devidas consequências judiciais e políticas.
Não vê perspetivas de voltar para Portugal. "Não rejeito o meu país. Portugal tem muitas potencialidades, mas tornámo-nos muito dependentes da Europa", diz.