O telefonema entre Donald Trump e Vladimir Putin, esta quarta-feira, com a meta de arrancar as negociações sobre a guerra na Ucrânia, levantou preocupações nos aliados europeus devido às concessões admitidas publicamente por Washington. O Pentágono garantiu, porém, que isto "não é uma traição" com Kiev.
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O chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou, esta quinta-feira, que "a próxima tarefa é assegurar que não haja uma paz ditada". Já o ministro da Defesa germânico, Boris Pistorius, em Bruxelas para a reunião da NATO, considerou "lamentáveis" as "concessões" dos Estados Unidos antes do início das conversações para um acordo.
Logo antes da ligação telefónica entre os líderes norte-americano e russo ter-se tornado pública, o secretário de Defesa dos EUA anunciara as linhas vermelhas da Administração Trump em relação ao conflito. Pete Hegseth classificou como "irrealista" o regresso das fronteiras da Ucrânia pré-2014, quando a Rússia tomou a península da Crimeia. O chefe do Pentágono descartou também a adesão ucraniana à Aliança Atlântica, argumentando pela independência securitária dos países europeus, que ficariam responsáveis pela ajuda a Kiev num contexto extra-NATO.
Hegseth esclareceu hoje que "não há traição aí". "Há um reconhecimento de que o Mundo inteiro e os Estados Unidos estão investidos e interessados na paz", destacou. "Isto exigirá que ambos os lados reconheçam coisas que não querem", completou.
Stephen Wertheim, do think-tank Fundo Carnegie para a Paz Internacional, acredita que o discurso do secretário de Defesa de Washington foi uma "concessão à realidade". "A observação de Hegseth não implica qualquer vontade dos EUA em reconhecer o território ucraniano ocupado como legalmente russo", analisou o investigador, citado pela agência Reuters.
As críticas às concessões foram repetidas, todavia, também no contexto doméstico norte-americano. "Porque é que a Administração Trump está a dar presentes a Putin - terras ucranianas e a não adesão da Ucrânia na NATO - antes mesmo de as negociações começarem?", questionou Michael McFaul, ex-embaixador dos EUA na Rússia durante o Governo Obama, entre 2012 e 2014. "Eu negociei com os russos. Nunca lhes entrega nada de graça", escreveu na rede social X (anteriormente Twitter).
Trump tinha revelado, na segunda-feira, em entrevista à estação Fox News, que pediu à Ucrânia "o equivalente a 500 mil milhões de dólares [cerca de 490 mil milhões de euros] em terras-raras". O país tem grandes depósitos destes metais essenciais para a indústria eletrónica nas regiões ocupadas por Moscovo. Na quarta-feira, Volodymyr Zelensky chegou a reunir-se com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, em Kiev, onde recebeu um rascunho de um potencial acordo por recursos naturais ucranianos.
NATO e o futuro
O secretário-geral da NATO defendeu que qualquer acordo final sobre o conflito no Leste Europeu tem que ser "duradouro" e com a participação de Kiev. "Claro que isto é crucial - [quando] falamos sobre a Ucrânia, a Ucrânia está intimamente envolvida em tudo o que acontece na Ucrânia", declarou Mark Rutte.
O ministro das Forças Armadas de Paris pontuou que este "é um momento crucial da verdade" para a Aliança Atlântica, ecoando o já antigo desejo do presidente francês, Emmanuel Macron, de ampliar as capacidades defensivas da Europa a longo prazo. "As pessoas chamam-lhe a mais importante e forte aliança militar da história. Isto é historicamente verdade - mas a questão é: será que isto ainda será verdade daqui a 10 ou 15 anos?", indagou Sébastien Lecornu.
Rússia quer encontro logo
O Kremlin ressaltou esta quinta-feira a necessidade de um encontro cara a cara entre Putin e Trump "prontamente". No dia anterior, o ocupante da Casa Branca disse que esperava um encontro com o homólogo russo na Árabia Saudita.
Próximo a Moscovo e colega da Rússia nos BRICS, Pequim saudou o contacto telefónico entre os dois líderes. "A China está feliz por ver a Rússia e os EUA reforçarem a comunicação e o diálogo sobre uma série de questões internacionais", informou a porta-voz da diplomacia chinesa, Guo Jiakun.