"Alerta final": Mundo tem de reduzir emissões de gases de efeito de estufa até 2030
É o "alerta final". O Mundo necessita de reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, para limitar o aquecimento global a 1,5 graus celsius neste século, adverte um novo relatório da organização da ONU sobre Alterações Climáticas.
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Realizado após uma semana de reuniões na localidade alpina de Interlaken (Suíça), este sexto relatório sintetiza todos os outros cinco elaborados pelos peritos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês) desde 2015, assinalando que na década de 2011-2020 o planeta aqueceu 1,1 graus em relação aos níveis pré-industriais (1850-1900)
"A Humanidade caminha em gelo fino - e esse gelo está a derreter rapidamente", disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, adiantando que o Mundo "necessita de ação climática em todas as frentes - tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo", numa referência ao filme mais premiado na última cerimónia dos Oscars, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo".
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Os governos concordaram em agir para evitar que o aumento da temperatura global ultrapassasse 1,5°C, mas os especialistas acreditam que ultrapasse este limite na década de 2030. O Mundo aquece em resposta à acumulação de dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa na atmosfera. Todos os anos em que as emissões continuam a aumentar, consome-se o "orçamento de carbono" disponível e isso significa que serão necessários cortes muito mais drásticos nos anos seguintes.
Clima extremo já levou à morte de milhões de pessoas
No novo relatório, o IPCC expõe a devastação que já atingiu partes do Mundo. O clima extremo causado pelo colapso climático levou ao aumento de mortes devido à intensificação das ondas de calor em todas as regiões, milhões de vidas e casas ficaram destruídas em secas e inundações, milhões de pessoas passam fome e há "perdas cada vez mais irreversíveis" em ecossistemas vitais.
Mais de três mil milhões de pessoas vivem em áreas que são "altamente vulneráveis" ao colapso climático e metade da população global enfrenta escassez severa de água durante, pelo menos, parte do ano. Em muitas áreas, alerta o relatório, já estamos a atingir o limite ao qual nos podemos adaptar a mudanças tão severas e os extremos climáticos estão "a impulsionar cada vez mais o deslocamento" de pessoas na África, Ásia, América do Norte, Central e do Sul e no sul do Pacífico.
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Todos estes impactos deverão aumentar rapidamente, uma vez que não foi revertida a tendência de 200 anos de aumento das emissões de gases de efeito de estufa, apesar de mais de 30 anos de advertências do IPCC, que publicou o primeiro relatório em 1990.
Ainda há esperança
Segundo o relatório, ainda há esperança de não ultrapassar o limite de 1,5ºC. "Este relatório de síntese ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos", disse Hoesung Lee, presidente do IPCC.
Se as emissões de gases de efeito de estufa atingirem o pico e forem reduzidas rapidamente nos anos seguintes, ainda será possível evitar a pior devastação que se seguiria a um aumento de 1,5°C.
Guterres pediu aos governos que tomem medidas drásticas para reduzir as emissões, investindo em energia renovável e tecnologia de baixo carbono. Os países ricos devem tentar alcançar emissões líquidas zero de gases de efeito de estufa "o mais próximo possível de 2040" em vez de tentar atingir a neutralidade carbónica até 2050, compromisso que a maioria dos países assinou.