
A Amazónia brasileira perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024
Foto: Sebastiao Moreira/EPA
A temperatura média na Amazónia brasileira chegou, em 2024, a 1,5°C acima da média histórica, atingindo o limite máximo estabelecido pelo Acordo de Paris, segundo um estudo divulgado hoje pela rede MapBiomas.
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No Pantanal, outro dos principais biomas do país, a temperatura ultrapassou o limite do acordo ao alcançar 1,8°C, após enfrentar 205 dias sem chuva no ano passado.
O Acordo de Paris, assinado em 2015 por 197 países, estabelece como meta global limitar o aumento da temperatura do planeta a menos de 2°C, com ênfase em não ultrapassar os 1,5 °C, um limite que os especialistas consideram crucial para evitar impactos climáticos, como eventos extremos.
No estudo indica-se que a Amazónia brasileira perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024.
Em todo o Brasil, o aumento da temperatura ocorreu a um ritmo médio de 0,29°C por década.
O Pantanal apresentou o ritmo mais acelerado de aquecimento, com um aumento de 0,47°C por década, seguido pelo Cerrado, com um acréscimo de 0,31°C no mesmo período.
Em contraste, biomas costeiros como a Mata Atlântica e os Pampas registaram taxas mais moderadas (+0,21°C e +0,14°C, respetivamente).
Os dados provêm do MapBiomas Atmosfera, a nova plataforma da rede que fornece informações sobre temperatura, precipitação e poluição atmosférica entre 1985 e 2024, com base em imagens de satélite e modelação de dados.
Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, estudos recentes indicam que "a desflorestação altera a troca de calor e vapor de água com a atmosfera", o que provoca um aumento das temperaturas.
Na análise, o MapBiomas assinala que, desde 1985, o Brasil registou em 2024 a sua maior anomalia térmica, com 1,2°C acima da temperatura média.
Os 27 estados brasileiros registaram temperaturas entre 0,3°C e 2,0°C acima da média histórica. Roraima, situado no norte da Amazónia brasileira, na fronteira com a Venezuela, foi o mais afetado.
No que respeita às chuvas, no estudo revelou-se que, enquanto Rondónia, que faz fronteira com a Bolívia, registou 36 % menos precipitação do que a média, o estado do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina e o Uruguai, teve 19% mais, com chuvas que provocaram inundações sem precedentes, causando a morte de mais de 180 pessoas.
A plataforma também apresenta dados sobre poluição atmosférica, mostrando que a Amazónia regista as maiores concentrações de partículas microscópicas provenientes da queima de combustíveis fósseis e de biomassa, um dos maiores riscos para a saúde respiratória.
No bioma, a estação seca, entre julho e setembro, favoreceu os incêndios florestais, que no ano passado devastaram 15,6 milhões de hectares de vegetação.
O estudo foi divulgado um dia antes de a cidade amazónica de Belém receber cerca de 60 líderes de Estado e Governo, entre os quais o primeiro-ministro, Luís Montenegro, para participarem na Cimeira de líderes que antecede a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30).
