Autoridades reforçam segurança depois de os apoiantes do ex-presidente convocarem novas manifestações por todo o país. Supremo mantém suspensão de Ibaneis Rocha.
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Em resposta ao pedido da Procuradoria-Geral da União e do Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal (STF), o Governo e o Distrito Federal (DF) avançaram com um conjunto de medidas para prevenir novos atos de violência. Três dias depois da invasão às sedes dos três poderes, começaram a circular, nas redes sociais, convites para manifestações que, desta vez, não se ficariam por Brasília, estando previstos protestos para o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. As ameaças provenientes dos apoiantes mais radicais de Jair Bolsonaro deixaram o país em alerta, o que obrigou a uma forte mobilização das forças de segurança.
"Determinamos medidas para reforçar a segurança em todo o país devido ao facto de estarem a circular convites para novas manifestações", informou, esta quarta-feira, Rui Costa, ministro da Casa Civil. Além das forças de segurança estarem, em "mobilização máxima", detalhou Ricardo Cappeli, recém-nomeado interventor federal do DF, também a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi parcialmente fechada. "Não há hipótese de se repetir os factos inaceitáveis de domingo", assegurou o responsável, que reforçou a "plena confiança nas forças de segurança do DF". No mesmo dia, segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, a lista de pessoas detidas durante o ataque ocorrido na Praça dos Três Poderes chegou aos 736 nomes.
Multas e prisão
Alexandre de Moraes, juiz do STF, ordenou às autoridades públicas que adotasem todas as medidas para impedir quaisquer tentativas de ocupação ou bloqueio de estradas. O magistrado determinou ainda a proibição de interrupção do trânsito em todo o território, bem como o acesso a prédios públicos, sob pena de aplicação de multas entre os 20 e os 100 mil reais (entre quatro e 18 mil euros).
O também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impôs prisão para qualquer indivíduo que seja apanhado em flagrante a desrespeitar as normas decretadas, exigindo ainda ao Telegram que bloqueasse grupos que apelem à insubordinação.
Moraes tem tido mão de ferro com os bolsonaristas, alegando que "nada justifica e existência de acampamentos cheios de terroristas, patrocinados por diversos financiadores e com a complacência das autoridades". O STF decidiu, em plenário virtual, dar continuidade à suspensão do governador do DF, Ibaneis Rocha, por 90 dias, sendo substituído pela vice-governadora Celina Leão. Os juízes mantiveram ainda o pedido de prisão preventiva a Anderson Torres, exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública do DF, e do ex-comandante da Polícia Militar de Brasília, Fábio Augusto Vieira.
Anderson Torres, que estava em Orlando, nos EUA, tal como Bolsonaro, aquando dos incidentes, informou ontem que vai regressar ao Brasil e irá colaborar com a Justiça. "Irei-me apresentar à justiça e cuidar da minha defesa", escreveu no Twitter, acrescentando: "Sempre pautei minhas ações pela ética e pela legalidade".
Bolsonaro incendeia internet
Jair Bolsonaro, por sua vez, já abandonou o hospital em Orlando, nos EUA, apesar de os médicos terem recomendado o prolongamento do internamento, que se deveu aos frequentes problemas intestinais que possui desde que foi esfaqueado em 2018. O ex-presidente brasileiro divulgou, na noite de terça-feira, um vídeo nas redes sociais, no qual a eleição de Lula da Silva é questionada. A publicação esteve online durante apenas duas horas, mas mesmo tendo sido apagada pelo ex-presidente, esteve disponível durante tempo suficiente para incendiar a internet.
"Lula não foi eleito pelo povo. Ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE", diz Felipe Gimenez, procurador do Estado do Mato Grosso do Sul, que, no vídeo partilhado por Bolsonaro, tece duras críticas à segurança das urnas eletrónicas. Segundo o portal G1, o responsável está a ser investigado por divulgação de notícias falsas e defende que as Forças Armadas devem "intervir no sistema político".
A publicação do vídeo alimentou diversas interpretações entre os apoiantes de extrema-direita, que a entenderam como uma validação da invasão, mesmo depois de Bolsonaro se distanciar dos acontecimentos do último domingo.
SABER MAIS
Apoiante presa
A Polícia Federal comunicou a detenção de Ana Priscila Azevedo, apontada como uma das mobilizadoras da invasão. A apoiante de Bolsonaro, conhecida por divulgar vídeos a pedir uma intervenção militar no Planalto, foi detida no município de Luziânia, no estado de Goiás.
Bloqueio de bens
O Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas do Brasil o bloqueio de bens de Jair Bolsonaro, na sequência do ataque aos três poderes por parte dos seus apoiantes mais radicais.
Protestos em Lisboa
Mais de uma centena de pessoas manifestaram-se esta quarta-feira no Largo de Camões, em Lisboa, em apoio à democracia brasileira e pedindo a responsabilização dos envolvidos no ataque.