O presidente angolano, João Lourenço, exonerou a presidente da Administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), Isabel dos Santos, filha do anterior chefe de Estado e tida como a mulher mais poderosa de África, fazendo cessar uma gestão controversa e dando um aparente sinal de afastamento da família dos Santos dos negócios do Estado.
Corpo do artigo
Também ontem, o ministro da Comunicação Social, João Melo, invocando ordens do Presidente, determinou o fim dos contratos de gestão do segundo canal da Televisão Pública da Angola (TPA) pela empresa Semba Comunicação, detida por dois filhos de José Eduardo dos Santos (Welwiltshea "Tchizé" e José Paulino), e da TPA Internacional pela Westside, restituindo os canais à esfera pública.
A notícia do dia foi a substituição de Isabel dos Santos nada menos que pelo secretário de Estado do Petróleo, Carlos Saturnino, demitido em dezembro pela empresária do cargo de presidente da Comissão Executiva da Sonangol Pesquisa & Produção - a principal empresa da holding estatal. As razões prendem-se com perdas fiscais em exportações de 30% e a acelerada paralisação da produção e comercialização petrolífera no último ano e meio.
As atenções continuam voltadas para outro filho do homem que chefiou o Estado angolano nos últimos 38 anos - José Filomeno dos Santos, presidente do Fundo Soberano de Angola, no valor de cinco mil milhões de euros, e apontado no escândalo "Paradise Papers" devido a aplicações em paraísos fiscais. A proibição de transferência de capitais para "offshore" é uma das mais emblemáticas medidas do Plano Intercalar Outubro-Março aprovado pelo Governo no mês passado.
A exoneração de Isabel Santos é a mais recente de uma longa série de "decapitações" em empresas e organismos públicos que João Lourenço já realizou em 50 dias de governo, incluindo o Banco Nacional de Angola e as também estratégicas Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama) e Empresa de Comercialização de Diamantes (Sodiam), no âmbito de uma profunda reestruturação do setor empresarial público e serviços públicos e do aplanamento para as reformas.
Ao discursar no 42.º aniversário da independência (11 de novembro), João Lourenço, que tem como prioridades a reanimação da economia, inclusivamente com o regresso de capitais investidos por angolanos no exterior e a diversificação dos setores produtivos, alertou para "os inúmeros obstáculos no caminho" que pretende "percorrer". Assegurando que as metas traçadas "são para serem encaradas com a devida seriedade e responsabilidade" acentuou: "Precisamos de neutralizar ou reduzir a influência nefasta dos que apenas se preocupam em se servir a si mesmos".
No quadro das reformas, Lourenço atribui um papel especial aos meios de comunicação públicos, não só substituindo as administrações da TPA, da agência noticiosa Angop e do "Jornal de Angola", mas também exortando-os ao pluralismo e a compreenderem os novos tempos. "Acreditamos nas vossas capacidades profissionais e de interpretar o momento político que o país vive", disse, na posse dos novos gestores.