A Procuradoria-Geral da República de El Salvador pronunciou o antigo presidente salvadorenho Alfredo Cristiani pelo célebre massacre, em 16 de novembro de 1989, na Universidade Centroamericana José Simeón Cañas (UCA), em San Salvador, de seis sacerdotes jesuítas, entre os quais o destacado ideólogo espanhol da Teologia da Libertação, Ignacio Ellacuria.
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Cristiani, que fugiu de El Salvador em março do ano passado, após a reabertura do processo, e é também investigado por corrupção e enriquecimento ilícito no seu mandato, é acusado, com sete comandantes militares e um advogado, dos crimes de homicídio, conspiração para cometer atos de terrorismo, fraude processual e encobrimento, indica o jornal salvadorenho "La Prensa Gráfica".
Segundo a acusação, Alfredo Cristiani, que foi presidente de El Salvador entre 1 de junho de 1989 e 1 de junho de 1994, inaugurando duas décadas de poder no partido de direita Aliança Republicana Nacionalista (ARENA), não só esteve presente na reunião com os comandantes militares que prepararam a operação, na noite de 15 de novembro de 1989, mas também autorizou a sua concretização pelo Batalhão Atlacatl.
O jesuíta Ignacio Ellacuria, reitor da UCA, era um dos alvos incómodos para o regime de Cristiani, que aliás manteve com ele várias conversas telefónicas antes do ataque, devido à defesa que fazia, com outros sacerdotes da corrente Teologia da Libertação na América Latina, dos pobres e dos oprimidos pelo regime, que então enfrentava uma sangrenta guerra civil (1979-1991, saldada em 75 mil mortos e sete mil desaparecidos) com a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN).
De acordo com a síntese dos acontecimentos feita pela organização The Center for Justice & Accountability (Centro para a Justiça e a Prestação de Contas, em tradução livre), sediada em S. Francisco, nos Estados Unidos, na madrugada desse 16 de setembro, um comando militar entrou na UCA, abrindo caminho pelo Centro Pastoral.
Tendo acudido a verificar os ruídos, os sacerdotes - cinco espanhóis e um salvadorenho - a cozinheira e a filha foram forçados a sair para o jardim e deitar-se com os rostos para o chão, enquanto a casa era revistada. Depois, foram assassinados brutalmente.
Também investigado por corrupção, Cristiani está em parte incerta
Como as forças da FMLN estavam na altura muito ativas junto da capital, San Salvador, os militares pintaram nas paredes inscrições tentando associar os crimes à organização, insinuando que os sacerdotes a teriam traído. Mas o embuste foi imediatamente desmascarado.
Já a caminho do processo de paz, assinado em 16 de janeiro de 1992, entre o Governo e a FMLN (que veio a governar o país entre 2009 e 2019), em setembro de 1991 um tribunal julgou nove militares como autores materiais do massacre. Contrariando as denúncias de organizações de direitos humanos, os autores morais não foram levados à barra.
Em janeiro do ano passado, a Procuradoria abriu um processo com esse objetivo, fazendo recair imediatamente as investigações sobre o antigo presidente e comandantes militares da época, o que levou à fuga de Alfredo Cristiani. Apesar da emissão de mandados internacionais de captura, desconhece-se o seu paradeiro.
Cristiani é também perseguido pela Justiça por crimes de corrupção e enriquecimento ilícito, cujo produto soma pelo menos 4,2 milhões de dólares. No passado dia 1, as autoridades realizaram uma gigantesca operação de buscas e apreensões, abrangendo 156 imóveis atribuídos ao antigo presidente, incluindo várias mansões e quintas em diferentes pontos do país, além de 42 veículos e 15 produtos financeiros.