Corria a noite de 25 de abril de 1986. Em Portugal, terminavam os festejos de mais um ano de liberdade. No Norte da Ucrânia, nascia um dos dias mais negros da humanidade. Na central nuclear de Chernobyl, iniciavam-se testes de resistência ao reator número quatro.
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Horas depois, na madrugada de 26, duas violentas explosões seguidas de um incêndio acendiam o rastilho daquele que viria a ser o maior desastre nuclear da História e que iria tornar aquela região ucraniana, na fronteira com a Bielorrúsia, uma zona-fantasma.
A promessa era de que as centrais nucleares não eram um perigo para a população e que as hipóteses de um colapso numa delas eram demasiado reduzidas. Mas as garantias dadas pelo Instituto Nuclear da então União Soviética caíram por terra no espaço de três meses.
Em Chernobyl, uma das maiores e mais antigas centrais nucleares do Mundo, simulava-se uma perda de abastecimento da energia externa que alimentava o reator, para confirmar que os sistemas de segurança estavam a funcionar corretamente. Rapidamente, a situação ficou fora de controlo e o desastre aconteceu.
Foram detetadas diversas falhas e os níveis do sistema de refrigeração baixaram drasticamente, levando a duas explosões, seguidas por um incêndio que demorou 12 dias a ser controlado. A combustão lançou para a atmosfera uma nuvem radioativa e libertou uma quantidade de radiação semelhante a 200 bombas atómicas idênticas à lançada sobre Hiroxima, no Japão, no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Centenas de bombeiros foram enviados para Chernobyl. Tentaram apagar o fogo com água, mas em vão. Foram, horas mais tarde, substituídos por helicópteros, que lançaram areia e chumbo sobre o reator.
Em negação, o Governo soviético, na altura liderado por Mikhail Gorbachov, tentou ocultar a extensão da tragédia, mas a verdade foi descoberta quando as repúblicas vizinhas Bielorrúsia e Rússia começaram a detetar material radioativo no ar. Foram contaminados cerca de 200 mil quilómetros quadrados, chegando mesmo à Finlândia, Suécia e Noruega.
Para conter a radiação, o reator foi selado num sarcófago de cimento, mas os danos permanecem até aos dias de hoje. Foi decretada uma zona de exclusão de 30 quilómetros à volta da central e as cidades adjacentes, incluindo Pripyat - junto a Chernobyl, fundada em 1970, sob os restritos padrões da União Soviética, para albergar os trabalhadores da central -, foram evacuadas devido aos altos níveis de radioatividade.
Há 35 anos, Pripyat tinha quase 50 mil habitantes. Hoje, é uma cidade-fantasma, com edifícios em ruínas tomados pela natureza, onde jazem lembranças do tempo em que ali se vivia. E assim continuará, por mais 20 mil anos, estimam os cientistas. Não se sabe bem quantas foram as vítimas do desastre, mas algumas estimativas indicam que morreram, ao longo dos anos, entre quatro mil a nove mil pessoas, por cancros devido à contaminação.
Novas tecnologias previnem
Apesar da dimensão daquele e de posteriores acidentes nucleares, a produção de energia através deste método continua a ser opção para muitos governos, muitos com planos para a construção de novas centrais, tal como o da Polónia, um dos poucos países europeus sem central nuclear, mas que prevê construir uma até 2033.
Ainda assim, a preocupação com as consequências de outro desastre nuclear levou a que novas medidas de segurança fossem aplicadas. Foram criados novos protocolos para as centrais, reforçando-se as equipas de emergência locais e as estratégias dos quadros de trabalhadores para prevenir situações catastróficas como a de Chernobyl.
Além disso, hoje em dia, a maior parte das centrais nucleares utiliza reatores de água pressurizada, cujo processo de fissão é controlado através da pressurização. Uma "tecnologia completamente diferente da de Chernobyl", com a qual um incidente como o de há 35 anos "é impossível ocorrer", disse, à britânica BBC, Luiz Pinguelli Rosa, físico e mestre em engenharia nuclear.
Outros Casos
Japão
Fukushima
Considerado o segundo maior desastre nuclear, o acidente na central de Fukushima Daiichi foi provocado por um terramoto, seguido por um tsunami que atingiu o leste do Japão a 11 de março de 2011. Morreram 18 mil pessoas devido ao tsunami e uma em relação direta com o ocorrido na central.
Rússia
Kyshtym
O desastre na central nuclear de Mayak, na região de Kyshtym, em 1957, deu-se depois de uma falha no sistema de arrefecimento de um tanque de resíduos. O material radioativo armazenado sobreaqueceu e explodiu, expelindo uma nuvem de partículas que se espalhou por 482 quilómetros. Terão morrido 9000 pessoas.
Estados Unidos
Three Mile Island
O acidente nuclear na fábrica de Three Mile Island, na Pensilvânia, a 28 de março de 1979, foi o mais sério nos Estados Unidos. Uma falha mecânica levou ao sobreaquecimento de um reator, tendo a central libertado radiação propositadamente para aliviar a pressão dentro do sistema. 140 mil pessoas tiveram de ser retiradas da zona.