Governo espanhol considerou proposta para criar um Sara Ocidental autónomo controlado por Rabat. Decisão gerou controvérsia no país.
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A tentativa do Executivo de Pedro Sánchez de encerrar uma crise diplomática com Marrocos abriu uma nova disputa. As críticas internas e externas surgiram após o primeiro-ministro anunciar que apoiava uma proposta para criar um Sara Ocidental autónomo controlado por Rabat.
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A decisão surpreendeu a oposição política, mas, segundo o "El País", também alguns membros do próprio Governo, já que a proposta espelha uma mudança de posição do país em relação à região. Espanha, que atualmente é considerada a potência administrativa do Sara Ocidental, defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o território se tratava de uma ocupação, e que a realização de um referendo promovido pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização. Mas o mais recente anúncio confirma uma nova abordagem.
A porta-voz do Podemos, Isa Serra, criticou a "viragem injustificável" do PSOE. "Temos um compromisso com o povo saaraui e com os direitos humanos", defendeu durante uma manifestação que ocorreu ontem em Madrid. Também a porta-voz do Más Madrid na Câmara da capital espanhola, Rita Maestre, lembrou que não entende a mudança na posição espanhola que "não foi decidida por nenhuma instância".
No quadro internacional, a Argélia, que faz fronteira com o Sara Ocidental, também mostrou indignação. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do país decidiu assim retirar o Embaixador argelino de Madrid, antecipando um relação diplomática menos amigável. Com o apoio da China, a Argélia defendeu, num comunicado conjunto com Pequim, uma solução que esteja de acordo com os moldes do direito internacional e das Nações Unidas.
Decisão corajosa
A Frente Polisário, movimento separatista apoiado pela Argélia, salientou que Espanha "está errada" e "sucumbiu à pressão e chantagem de Marrocos", ao aceitar a proposta marroquina de autonomia para o Saara Ocidental como base para a resolução do conflito.
Do lado oposto, a Associação Saaraui para a Defesa dos Direitos Humanos, grupo crítico da Frente Polisário, saudou "com satisfação" a "corajosa" decisão de Sánchez.
Detalhes
Legado espanhol
Em 1975, quando Espanha abandonou o Sara Ocidental, deixou para trás um território sem quaisquer infraestruturas, tal como uma população essencialmente analfabeta. O vazio deixado pelo país abriu portas a que Marrocos invocasse direitos históricos e invadisse o território.
Interesse económico
A região, localizada no continente africano, é muito rica em recursos naturais, como é o caso do fosfato. Graças à exploração das minas do Sara Ocidental, Marrocos é o maior exportador do Mundo deste mineral, o que explica o interesse do país na autonomia da região em relação a Espanha.