Mais de dois milhões de crianças sírias poderão tornar-se uma "geração perdida" devido à falta de apoio da comunidade internacional, alertou a UNICEF, que pede fundos urgentes para abordar a crise no país.
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Se a situação não melhorar, avisou a agência da ONU para a infância num relatório que assinala os dois anos do conflito na Síria, a UNICEF será obrigada a interromper, até ao final de março, as "operações para salvar vidas na Síria".
A UNICEF acrescentou que será "incapaz de responder às necessidades básicas das crianças, tais como acesso sanitário, campanhas de vacinação contra a poliomielite e o sarampo, cuidados neonatais e ajuda médica de urgência".
Até agora, a comunidade internacional financiou apenas 20% do total de 195 milhões de dólares (150 milhões de euros) pedidos pela UNICEF para cobrir, até ao fim de junho, as necessidades humanitárias das mulheres e das crianças afetadas pela crise na Síria, na Jordânia, no Líbano, na Turquia, no Iraque e no Egito.
O conflito na Síria afeta atualmente mais de dois milhões de crianças, 536 mil das quais têm menos de cinco anos, e uma em cada cinco escolas foi destruída pela guerra.
Cerca de 800 mil crianças com menos de 14 anos estão deslocadas no interior do país, enquanto meio milhão de menores são refugiados em países vizinhos.
"Em resumo, a crise está a chegar a um ponto sem retorno, com consequências de longo prazo para a Síria e a região como um todo, incluindo o risco de uma geração perdida de crianças sírias", escreveu a UNICEF no relatório.
Para o diretor executivo daquela agência, Anthony Lake, "o risco de ver perder uma geração aumenta a cada dia de deterioração da situação".
"Milhões de crianças na Síria e na região veem desaparecer o seu passado e o seu futuro", engolidos pelos "escombros e pela destruição provocada pelo conflito que se prolonga", acrescentou, referindo que as crianças enfrentam "perigos terríveis, são mortas, mutiladas e ficam órfãs devido ao conflito".
Mais de 70 mil pessoas morreram na Síria desde o início do conflito, que começou há dois anos.
Embora sem números concretos, a UNICEF lembrou que há crianças entre os milhares de mortos, assim como há crianças mutiladas, vítimas de violência sexual, tortura, detenções arbitrárias e menores recrutados como soldados.
"Inúmeras crianças sofrem o trauma psicológico de ver morrer familiares, de ser separados da família, de viver aterrorizados pelos bombardeamentos constantes", disse Anthony Lake, acrescentando que o acesso a água potável, a saneamento adequado e a cuidados de saúde está cada vez mais difícil.