Argentina identifica pianista Tenório Jr. quase 50 anos depois de ter desaparecido
A identidade do pianista brasileiro Tenório Júnior, desaparecido em Buenos Aires em 1976, dias antes do golpe de Estado que instaurou a ditadura militar no país, foi confirmada numa investigação do Grupo Argentino de Antropologia Forense.
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Em comunicado, esta organização científica independente revelou que conseguiu confirmar a identidade do músico brasileiro depois de comparar impressões digitais, embora se desconheça em concreto onde se encontram os restos mortais do artista.
Francisco Tenório Júnior tinha 35 anos quando foi sequestrado a 18 de março de 1976, em Buenos Aires, numa ocasião em que acompanhava os músicos Toquinho e Vinicius de Moraes, para uma série de concertos.
Sabe-se que, naquela noite de 18 de março, o músico saiu do hotel e nunca mais foi visto. O desaparecimento aconteceu poucos dias antes do golpe de Estado que derrubou Isabel Péron, então presidente, e impôs a ditadura militar.
Na investigação levada a cabo pelo Grupo Argentino de Antropologia Forense foi possível saber que, dois dias depois de Tenório Júnior ter desaparecido, foi encontrado o corpo de um homem, baleado, num terreno baldio na província de Buenos Aires, e do qual foram retiradas impressões digitais.
O corpo deste homem, nunca identificado, foi enterrado no cemitério de Benavídez, próximo do local onde foi baleado, e o processo foi arquivado.
Aquela organização forense independente, que há mais de 40 anos se dedica a investigar casos de desaparecimento de pessoas na Argentina, comparou as impressões digitais dos arquivos de Tenório Júnior com aquelas do corpo não identificado e conseguiu confirmar a identidade do pianista.
Em comunicado, a família do músico disse ter recebido esta informação com "um misto de alívio e tristeza" e pediu uma nova investigação sobre o que aconteceu em concreto a Tenório Júnior. "A dor não irá embora nunca, mas a justiça pode trazer conforto", referiu.
Quando desapareceu, Tenório Júnior tinha quatro filhos e a mulher estava grávida.
A Argentina está há vários anos a fazer um levantamento de processos judiciais de Buenos Aires, entre 1975 e 1983, sobre vítimas mortais encontradas em vias públicas, sem identificação, para determinar se estão relacionadas com pessoas dadas como desaparecidas e vítimas de atos de terrorismo relacionados com a ditadura militar.
A história do desaparecimento de Tenório Júnior foi contada recentemente na longa-metragem de animação "Mataram o pianista", de Javier Mariscal e Fernando Trueba.
Em declarações à agência Efe, a diretora do Grupo Argentino de Antropologia Forense, Mariella Fumagalli, explicou que a identificação das vítimas demora tanto tempo que a recuperação dos corpos se torna mais complexa, dependendo de procedimentos administrativos dos cemitérios onde as ossadas são depositadas.