Rússia continua a esmagar o Donbass. Bombardeamentos matam em Kharkiv. Patriarca Cirilo absolve as tropas. Ucranianos prometem "aquecer a batalha".
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As armas não se calam na Ucrânia. Kiev reclama mais poder de fogo, mas já se felicita pela chegada da mais recente remessa de ajuda militar do Ocidente, constituída por poderosos obuses, que prometem travar o invasor russo e "aquecer a frente de batalha". A mesma linha, aonde, muito secretamente, se dirigiu Volodymyr Zelensky, para dar moral às tropas. Do lado russo, a ofensiva no Donbass cresce em potência desmesurada. Lugansk está quase toda dominada pelos batalhões Z e pelas forças separatistas pró-russas. Em Donetsk, o retrato é semelhante.
Enquanto se aplica a força dos arsenais de guerra, em Moscovo, também se executa uma batalha, a da propaganda, também travada por um amigo muito próximo de Vladimir Putin, o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa. Cirilo foi todo paramentado e a distribuir sinais da cruz e redenções aos militares feridos durante a campanha na Ucrânia e internados num hospital de Moscovo. O religioso agradeceu-lhes "a defesa da mãe-pátria".
"Queira Deus que o Senhor, em resposta a este sacrifício para salvar o seu povo, forneça todo o necessário para a vossa vida, abençoe a vossa futura vida familiar, a das vossas famílias e amigos, e o mais importante, vos conceda boa saúde", disse o patriarca aos soldados internados.
Ao mesmo tempo, no Kremlin, dirigindo-se a jovens diplomados das academias militares e aos mais altos quadros do Exército, Putin declarava-se "muito orgulhoso" da ofensiva russa. "Orgulhámo-nos de, no decurso desta operação militar especial, os nossos combatentes ajam com coragem e profissionalismo, como verdadeiros heróis", declarou o presidente russo, utilizando, por diversas vezes a expressão autorizada para a descrição da ofensiva.
Trincheiras e obuses
Os cadetes registaram. Mais dia, menos dia, podem ser também eles mobilizados para a frente de combate, onde as tropas ucranianas se entrincheiram, sobretudo na defesa do que lhes resta no Donbass, e já na posse do arsenal de lança-obuses autopropulsionados Panzerhaubitze 2000, enviados pela Alemanha. São máquinas de guerra que prometem aumentar a resistência à ofensiva russa.
De terça-feira, sobram, entretanto, mais relatos de violência e de destruição humana: 15 mortos e 16 feridos em bombardeamentos a Kharkiv. E notícias de um incidente transfronteiriço: um helicóptero da guarda fronteiriça russa violou o espaço aéreo da Estónia, país membro da NATO. Militares estónios dizem que o MI-8 russo transpôs, no sábado à noite e sem autorização, o espaço aéreo do país, na zona de Koidula, perto da cidade russa de Pskov, no sudeste da Estónia.
Negociações pelo trigo
Nada que deva comprometer o que também foi noticiado ao final da tarde desta terça-feira: num encontro a quatro, marcado para a próxima semana, em Istambul, a Turquia organiza e a ONU supervisiona uma reunião com representantes da Ucrânia e da Rússia para o levantamento do bloqueio que impede as exportações de cereais através do Mar Negro.