Intervenção do presidente da Ucrânia foi aprovada esta tarde pela Assembleia da República.
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Volodymyr Zelensky tem causado impacto um pouco por todo o Mundo com os seus discursos. Desde pedidos de ajuda a apelos aos sentimentos dos líderes de cada nação, o presidente ucraniano é sempre aplaudido após cada intervenção, uma espécie de "abraço virtual" pelo que a Ucrânia tem vivido no último mês e meio de guerra com a Rússia.
Portugal aprovou esta tarde a intervenção de Zelensky no Parlamento, apenas com o voto contra do PCP. Ainda não há data definida para quando esta irá acontecer, mas a Assembleia da República irá tornar-se no 20.º Parlamento nacional em que o líder ucraniano vai discursar. Entre Estados Unidos e Dinamarca, Alemanha ou Japão, Zelensky proferiu várias frases marcantes, merecedoras de aplausos. Recordamos algumas das mais impactantes.
Reino Unido
Um pouco à semelhança do que fez noutras nações, Zelensky apelou a restrições económicas mais pesadas para a Rússia. No discurso ao Parlamento Britânico, pediu que os políticos reconhecessem o país liderado por Vladimir Putin como um "estado terrorista".
"Por favor, garantam que os nossos céus ucranianos são seguros. Por favor, certifiquem-se de que fazem o que precisa de ser feito. Não vamos desistir e não vamos perder. Lutaremos até ao fim no mar, no ar, vamos continuar a lutar pelo nosso solo, seja qual for o custo. Vamos lutar nas florestas, nos campos, nas margens, nas ruas", disse.
Estados Unidos da América
Perante Joe Biden, ainda que via videoconferência, Zelensky recordou os políticos americanos de episódios passados de terror para reforçar os pedidos de ajuda na Ucrânia.
"Tenho quase 45 anos, hoje a minha idade parou quando os corações de mais de 100 crianças pararam de bater. Não vejo sentido na vida se não conseguirmos parar a morte", começou por dizer. O líder ucraniano reforçou a ideia que não vai desistir, considerando a guerra com a Rússia a "pior desde a Segunda Guerra Mundial".
De forma a reiterar o pedido de uma zona de exclusão aérea, Zelensky quis entrar na memória dos americanos. "Lembrem-se de Pearl Harbor, lembrem-se do 11 de setembro - um dia terrível - em que o mal tentou apoderar-se das vossas cidades, nas quais inocentes foram atacados a partir do ar. Eu tenho um sonho", referiu, fazendo referência ao discurso de Martin Luther King.
Canadá
A ideia de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia foi também impulsionada no discurso perante os políticos canadianos. Apesar do agradecimento ao Governo do Canadá, Zelensky questionou: "quantos mais mísseis vão ter de cair nas nossas cidades até ser criada uma zona de exclusão aérea?".
França
No discurso no Parlamento francês, Zelensky apelou a sanções económicas à Rússia por parte do país governado por Emmanuel Macron, não esquecendo os ideais enraizados na cultura francesa.
"A França deve colocar fim a esta guerra contra a liberdade, igualdade e fraternidade", começou por dizer. "Renault, Auchan, Leroy Merlin devem deixar de ser patrocinadores da máquina de guerra russa e deixar de financiar a morte de crianças e de mulheres. Precisam de lembrar-se que os valores são mais importantes que os benefícios".
Noruega
Rodeada maioritariamente por mar, a Noruega é um dos países nórdicos que faz fronteira com a Rússia. Fazendo referência ao país governado por Vladimir Putin, o presidente da Ucrânia referiu que "nenhum outro país desde a Segunda Guerra Mundial e desde a ameaça nazi no mar representou uma ameaça tão grande para o transporte marítimo", revelando que os russos "colocaram minas na água".
Posto isto, Zelensky pediu à Noruega e à União Europeia a proibição das embarcações russas de utilizarem portos europeus e reiterou a urgência desta medida. "Estamos a perder pessoas enquanto estou aqui a falar".
Israel
As origens judaicas de Zelensky foram colocadas em cima da mesa pelo presidente ucraniano durante o discurso no Parlamento israelita. O político comparou a propaganda russa com as declarações nazis contra os judeus, a meados do século XX.
"Escutem o que diz o Kremlin. São as mesmas palavras, a mesma terminologia que os nazis usaram contra vós", começou por dizer, antes de incentivar à ação. "É hora de Israel fazer a sua escolha, a indiferença mata. Há que fornecer assistência militar à Ucrânia e impor sanções contra a Rússia, algo que Israel ainda não fez".
Espanha
Perante os políticos espanhóis, Zelensky recordou um bombardeamento em 1937 para incentivar à aplicação de sanções mais graves à Rússia.
"Estamos em abril de 2022 mas parece que estamos em abril de 1937, quando Guernica foi bombardeada", começou por dizer. Esse episódio na cidade do País Basco aconteceu durante a Guerra Civil espanhola, por aviões nazis e italianos, em apoio aos militares nacionalistas, e o presidente ucraniano encontrou paralelismos entre essa parte da história de Espanha e a atual guerra na Ucrânia. Perante isso, reforçou o pedido de sanções.
"Como podemos permitir que os bancos russos tenham lucros enquanto torturam pessoas? Como podemos permitir que as empresas europeias façam lucros enquanto destroem o meu país?".
Roménia
As imagens da cidade ucraniana de Bucha já circularam e chocaram pessoas um pouco por todo o Mundo. Dezenas de pessoas estendidas no chão, mortas, pelos soldados russos, algo que Zelensky considera que ficará "na história dos crimes de guerra e do genocídio".
Foi a mencionar Bucha que começou o discurso no Parlamento romeno, referindo que os cidadãos foram assassinados enquanto caminhavam na rua.
Para o governante, isto é um sinal claro da intenção de Vladimir Putin em destruir a Ucrânia, sem problemas em matar inocentes, mas também explica que a propaganda russa tem mais planos.
"A Ucrânia não é o último alvo da Rússia. As tropas estão a tentar entrar em Mykolaiv para controlar Odessa e, a partir daí, é apenas um passo para a Moldávia. Os propagandistas russos há muito que dizem que a Moldávia é um alvo da expansão pretendida. Por isso, defender a Ucrânia é fundamental para a segurança da Moldávia, Europa de Leste e central e o Mar Negro".
Países Baixos
"A tirania tem sempre de perder", foi assim que Zelensky começou por discursar no Parlamento neerlandês. Este foi mais um palco para o governante recordar episódios de guerra antigos. "A Segunda Guerra Mundial começou com a invasão de apenas alguns países, mas não demorou muito a que os nazis bombardeassem Roterdão e Londres".
O político pediu mais apoio, mais armas para "libertar as cidades" e reforçou o papel dos Países Baixos no auxílio aos ucranianos, apelando à "influência nas instituições internacionais" do primeiro-ministro Mark Rutte para que ajudasse a Ucrânia a ter um lugar na União Europeia. "Sermos membros da União Europeia depende de si", disse.
Bélgica
A discursar no país que é a casa do Parlamento Europeu, Zelensky explicou que sem a paz na Ucrânia não vai haver uma União Europeia forte, porque a "tirania vai tirar" todas as posses e "tudo aquilo que a Europa se orgulha".
O governante ucraniano transmitiu a ideia que a liberdade tem um custo, algo que o "Mundo está habituado" mas ainda não percebeu a verdadeira dificuldade de a obter. "É o Mundo que acredita que, por exemplo, os diamantes russos na Antuérpia são mais importantes que a guerra no Leste da Europa".
"A paz vale mais que tudo: diamantes, acordos e que o petróleo russo", afirmou, justificando novamente o pedido de fecho dos portos europeus a embarcações provenientes da Rússia.
Dinamarca
Talvez uma das intervenções mais emocionais do governante ucraniano. Começou por dizer que sabe que as velas na Dinamarca são símbolos de conforto e de uma vida caseira normal, algo que "muita gente na Ucrânia não consegue imaginar".
"Queria pedir às famílias dinamarquesas para acenderem uma vela em memória das vidas perdidas na sequência da invasão russa, em memória daqueles que se sacrificaram pela paz e liberdade".
Suécia
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As bandeiras da Suécia e Ucrânia partilham do mesmo azul e amarelo, algo que é o início de uma série de aspetos que demonstram a ligação das duas nações, de respeito, liberdade e paz. Devido a essa "irmandade", é lógico para Zelensky haver um apoio por parte dos suecos aos ucranianos. Mas a ameaça bélica também é invocada pelo político.
"Se a Ucrânia falhar em defender-se significa que todos os vizinhos da Rússia estão em perigo, e isso significa o mesmo para vocês (suecos), porque apenas o mar vos separa das políticas agressivas daquele país", explicou.
O presidente ucraniano acrescentou ainda que os propagandistas russos já discutem na televisão formas de ocupar a ilha de Gotland e como a ter sob controlo durante décadas.
Japão
Sob a atenção dos políticos japoneses, Zelensky explicou que a distância entre as duas nações é apenas física, numérica e que há muito mais que as une do que aquilo que as separa. "As nossas capitais estão separadas por mais de oito mil quilómetros, mas qual a distância entre o sentimento de liberdade, a vontade de viver, as aspirações para a paz?", questionou.
O líder ucraniano apelou à capacidade de liderança do Japão, criando novas ferramentas e formas de prevenir novas agressões a centrais nucleares, tal como aconteceu em Chernobyl por parte do exército russo.
Suíça
Zelensky começou por demonstrar toda a admiração que tem pela Suíça, pela forma e qualidade de vida, admitindo que uma vez, em visita, questionou-se o porquê de os ucranianos não poderem viver da mesma maneira. "Apenas queria que os ucranianos vivessem como os suíços... e que os suíços vivessem como os ucranianos, na luta contra o mal", começou por dizer.
"Por isso não há dúvidas quanto aos bancos. Quanto aos vossos bancos, onde o dinheiro daqueles que começaram esta guerra está guardado. É urgente que se congelem as contas dessas pessoas, é uma grande luta mas vocês conseguem!", referiu.
Alemanha
O presidente ucraniano foi mais crítico no discurso perante o Parlamento alemão. Apesar deste registo, não deixou de fazer um paralelismo com a Segunda Guerra Mundial e o Muro de Berlim para apelar à consciência dos políticos.
"Nós vemos a quantidade de ligações que as vossas empresas mantêm com a Rússia. Pedimos-vos que ajam com poder e que não pensem apenas na economia. Há um muro que vos separa dos ucranianos que estão a morrer. Destrua esse muro, Chanceler Scholz", disse.
Irlanda
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O registo crítico manteve-se na intervenção no Parlamento irlandês, que Zelensky considera estar "indeciso", algo que não compreende.
"Enquanto o mundo inteiro está ciente dos crimes cometidos contra o nosso povo, ainda temos de convencer as empresas europeias a deixarem o mercado russo. Ainda temos de convencer os políticos estrangeiros a cortar os laços dos bancos russos com o sistema financeiro internacional e ainda temos de convencer a Europa de que o petróleo não pode financiar esta máquina de guerra".
Polónia
Quente e frio, sensações opostas mas no que toca ao auxílio aos inocentes não há nada que oponha polacos e ucranianos, mesmo que isso não tenha sido sempre assim.
Essa ideia foi transmitida pelo governante, admitindo que quando chegou à presidência em 2019 tinha a sensação que havia um longo caminho a percorrer com a Polónia, com quem tinha uma relação fria, apesar da vontade de a aquecer. No entanto, com a guerra tudo mudou.
"Apenas em um dia, no primeiro dia de guerra, ficou claro para mim, todos os ucranianos e polacos que não há fronteiras entre nós, nem físicas, nem históricas, nem pessoais". A Polónia é o país que mais refugiados acolheu, gesto que motivou um agradecimento por parte do líder ucraniano.
Itália
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No país transalpino, Volodymyr Zelensky referiu que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia foi "começada por uma só pessoa", evocando as centenas de crianças que morreram durante o conflito.
"O objetivo da Rússia é influenciar a Europa, destruir os valores, democracia e direitos humanos. A Ucrânia é a porta para o exército russo, porque pretendem entrar na Europa. Precisamos de outras sanções e instrumentos de pressão".
Austrália
Na intervenção no Parlamento australiano, o líder ucraniano voltou a pedir ajuda bélica, mais especificamente os "veículos blindados Bushmasters, que podiam ajudar a Ucrânia de forma substancial".
O governante ainda recordou o derrube do avião comercial MH17 em 2014, pelas forças pró-russas, no qual morreram 298 pessoas, incluindo australianos. "Se tivéssemos castigados a Rússia pelo que fez, não teria havido invasão", disse.
Parlamento europeu
"Não posso dizer bom dia, nem boa tarde nem boa noite, porque para alguns este dia é mau e para muitos este dia é o último". Foi assim que Zelensky começou uma das intervenções mais impactantes desde o início da guerra.
Hoje pagamos por valores, por direitos, por liberdade, apenas pelo desejo de ser igual, igual a vocês. Pagamos com os nossos melhores: os ucranianos mais fortes e extraordinários". Estou satisfeito por hoje vos ter unido, a vós países da União Europeia, mas não sabia que isso teria tal preço - é uma tragédia para mim, para todos os Ucranianos e para o nosso país", disse.
De forma a motivar o Parlamento europeu a tomar decisões, o líder ucraniano pediu provas. "Provem que estão connosco, que não nos deixam cair e são realmente europeus. E então, a vida triunfará sobre a morte e a luz triunfará sobre as trevas".
Nações Unidas
A Rússia é um dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). Isso dá ao país governado por Vladimir Putin o poder de veto sobre as decisões tomadas, algo que Zelensky considera inaceitável.
"A carta das Nações Unidas deve recuperar a força imediatamente para que o direito de veto não se torne no direito à morte. Se vocês não souberem como tomar essa decisão, podem fazer o seguinte: retirar a Rússia do Conselho de Segurança para que eles não possam bloquear decisões sobre a sua própria agressão e guerra", disse.