O finlandês Mikko Paasi, um dos mergulhadores que resgatou sãos e salvos os 12 jovens de uma equipa de futebol, entre os 11 e os 16 anos, e o treinador, de 25, que a 23 de junho do ano passado ficaram presos nas grutas Tham Luang, na Tailândia, respira fundo antes de começar a recordar aquela que foi a maior missão de resgate da sua vida.
Corpo do artigo
Está em Viseu para participar este fim de semana nas jornadas técnicas de mergulho, organizadas pelos bombeiros voluntários de Viseu. O dinamarquês Ivan Karadzic também foi anunciado mas, por razões de saúde, a sua presença foi cancelada.
Mikko vai ter duas horas para contar como foi possível salvar as 13 pessoas que ficaram na gruta durante duas semanas, por considerar "importante" a partilha de conhecimento.
Longe de se sentir um herói, porque como diz, "corajosas foram as crianças e as mães solteiras, que suportaram o desespero", Mikko diz que se tivesse percebido que tinha a vida em risco, teria seguido o que se deve fazer: retirar-se.
9573525
Admite apenas ter dado um "bom contributo" ao valer-se de contactos que tinha no setor do mergulho para conseguir equipamento especializado e eficiente, que pudesse operar nas sinuosas grutas, já que aquele de que dispunha nas escolas de mergulho que possui na Tailândia e em Malta, e que disponibilizou, era demasiado grande. Quase um ano depois ainda está a ser retirado equipamento das grutas. "Ainda está lá muito", adianta.
Mikko entrou nas grutas já depois dos mergulhadores britânicos terem anunciado que as 13 pessoas estavam vivas. Recebeu a notícia quando estava a fazer escala em Munique, Alemanha. "O primeiro pensamento que tive foi de alívio e de felicidade", recorda.
Por dia, conseguíamos retirar quatro crianças e cada uma demorava cerca de quatro horas
Julgava já não ser necessário, mas afinal, o trabalho mais árduo ainda estava para vir. E foi quando foi para a Tailândia e entrou nas grutas. Uma das missões era assegurar que o percurso estava livre de obstáculos". A outra missão era levar garrafas de ar comprimido", conta Mikko, que se movimentava a seis metros de profundidade. Três dias depois, ficou nas ultimas duas "ilhas" das cavernas antes da saída. Só quatro mergulhadores britânicos e um médico podiam atravessar as restantes, que levavam às crianças. "Tirávamos e ajustávamos o equipamento das crianças para serem transportadas de uma ilha para a outra, por espaços confinados", explica.
"Por dia, conseguíamos retirar quatro crianças e cada uma demorava cerca de quatro horas", relata. Muitos jovens não sabiam sequer nadar.
Foram medicadas com xanax para relaxarem e com ketamina para não entrarem em pânico
"Foram medicadas com xanax para relaxarem e com ketamina para não entrarem em pânico". A medicação administrada teve também como objetivo evitar que ficassem com memórias do resgate, para evitar traumas. "Nenhuma das crianças vai conseguir contar como saiu das grutas. Nem aos pais. Até podem sonhar, mas só vão lembrar-se dos dias em que estiveram presas", assegura o mergulhador.
Esta é a razão porque nenhum dos jovens vai lembrar-se de Mikko. "Quando entrei em contacto com elas, já estavam medicadas. As crianças nunca vão lembrar-se que ajudei a tirá-las das grutas", diz. Já voltou a estar com os jovens três vezes. "Ah, falamos de mergulho e de futebol", revela, satisfeito por perceber que as crianças, que quando salvou "era muito magras, eram pele e osso, estão agora bem".
Há cerca de um mês, os Navy Seal reconstituíram o que sucedeu, acompanhados por uma das crianças. Mikko foi convidado a participar. "A criança foi muito corajosa porque esteve nos mesmos locais onde esteve presa e contou-me coisas que me tocaram muito, por exemplo, terem passado uma boa parte do tempo a esgravatar na areia para tentarem sair".
Há um Mikko Paasi antes e outro depois da operação na Tailândia: "Aprendi a estar mais confiante com as minhas aptidões profissionais. Apesar de estar sempre em formação, esta operação foi, profissionalmente, um grande passo".
As grutas estão agora a transformar-se num lugar turístico. "Antes iam ali quatro ou cinco pessoas e agora são milhares por dia", adianta. "Para a aldeia, que é muito pobre, é bastante bom", defende.