Imagens em direto das chamas a devorarem um Airbus no aeroporto de Haneda, em Tóquio, fizeram recear o pior. Especialistas do setor da aviação elogiam rápida evacuação do aparelho, que tinha quase 400 pessoas a bordo.
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Rápida e sem falhas. Assim se descreve a bem sucedida operação de evacuação do Airbus A-350 da Japan Airlines que tinha a bordo 379 pessoas: 367 passageiros e 12 membros da tripulação. Em poucos minutos, com o avião a ser tomado pelas chamas, as imagens em direto mostraram um a um a descerem pelas mangas de emergência. Se por um lado a tripulação cumpriu os procedimentos do protocolo de segurança de forma rigorosa, também os passageiros foram "bem comportados" e obedeceram às indicações transmitidas, deixando para trás os seus bens de valor. E todos sobreviveram para contar a história.
"Não vejo um único passageiro em terra, em nenhum dos vídeos que vi, que tenha a sua bagagem consigo... Se as pessoas tentassem levar a sua bagagem de cabine, isso seria realmente perigoso porque atrasaria a evacuação", disse Ed Galea, diretor do Grupo de Engenharia de Segurança contra Incêndios da Universidade de Greenwich, em declarações à BBC.
"Este acidente estava longe de ser ideal. O avião estava de nariz para baixo, o que dificultava a deslocação dos passageiros", salientou. Além disso, apenas três mangas insufláveis de emergência podiam ser utilizadas, mas não foram devidamente acionadas devido à forma como o avião aterrou, ficando com muita inclinação, o que poderia ter sido perigoso.
O sistema de anúncios do avião também não funcionou corretamente durante a evacuação, obrigando a tripulação a transmitir instruções através de um megafone e gritando, segundo a Japan Airlines.
Uma antiga comissária de bordo da companhia japonesa considera que os passageiros tiveram "uma sorte incrível". "Senti-me aliviada por saber que todos os passageiros estavam a salvo. Mas quando comecei a pensar no procedimento de evacuação de emergência, de repente senti-me nervosa e com medo", disse à BBC, sob anonimato. "Dependendo da forma como os dois aviões colidiram e como o fogo se propagou, poderia ter sido muito pior".
Destaca ainda como pode ser difícil, numa situação grave e crítica como a que ocorreu, evitar que os passageiros entrem em pânico. "O que eles conseguiram é mais difícil do que se pode imaginar. O facto de terem conseguido fazer com que todos escapassem é o resultado de uma boa coordenação entre a tripulação e os passageiros que seguiram as instruções", sublinhou a assistente de bordo, que deixou a Japan Airlines há dez anos.
Um piloto de uma companhia aérea do sudeste asiático, que também falou à BBC sob condição de anonimato, considera que o treino rigoroso da tripulação ajudou à rápida evacuação. "Devo dizer que foi espantoso. Penso que o que aconteceu neste caso foi que a formação fez efeito. Não temos tempo para pensar numa situação como esta, por isso fazemos o que fomos treinados para fazer", frisou. Explicou ainda, a este respeito, que para que qualquer avião de passageiros seja certificado internacionalmente, os fabricantes devem demonstrar que todas as pessoas a bordo podem sair em 90 segundos.
Perante o que parecia ser uma tragédia anunciada, fica o registo de um passageiro com contusões e outros 13 que solicitaram assistência médica devido a desconforto físico, informou a companhia aérea japonesa. Há, no entanto, a lamentar cinco mortos e um ferido grave, ocupantes do aparelho da Guarda Costeira, envolvido na colisão com o Airbus da Japan Airlines.
O pior acidente da transportadora japonesa ocorreu em agosto de 1985, quando o voo 123, com destino a Osaka, se despenhou contra uma montanha pouco depois de descolar de Haneda, Tóquio. Inicialmente, apenas quatro das 524 pessoas a bordo sobreviveram. O acidente foi mais tarde atribuído a uma reparação mal feita pela Boeing.