A horas de negociações entre os EUA, a Rússia, a Arábia Saudita, a Turquia e o Qatar, o presidente sírio não vê outra solução para o conflito além de expulsar os "terroristas" ou "matá-los".
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O Presidente da Síria quer "limpar" Alepo de "terroristas", por ser a segunda cidade do país, a sua capital económica e um símbolo fundamental: libertá-la dos rebeldes seria uma vitória política e militar, que funcionaria como "trampolim" para recuperar outras cidades. Bashar al-Assad justificou desta forma ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda" a campanha de bombardeamentos (apoiada pelos russos) sobre a parte oriental da cidade, controlada por rebeldes e onde vivem mais de 250 mil pessoas, cercadas há meses. Só esta semana morreram 150 pessoas, segundo socorristas no terreno.
"Tem que se continuar a limpar aquela área e empurrar os terroristas de volta para a Turquia para que voltem para de onde vieram. Ou matá-los. Não há outra opção", declarou Assad, rejeitando que a Síria possa ser um ponto de partida para uma terceira guerra mundial. A falta de consenso internacional em torno da Síria é mais uma Guerra Fria do Ocidente contra a Rússia, diz. "Os EUA não pararam com a Guerra Fria, mesmo depois da queda da União Soviética". A Síria "é apenas uma parte dessa guerra", através da qual os EUA "querem manter a hegemonia sobre o mundo".
A entrevista foi dada a horas de novas negociações entre a Rússia e os EUA, marcadas para este sábado na Suíça e das quais os russos dizem não esperar "nada de especial". Insistem numa solução negociada com Assad, que o Ocidente quer ver fora.
"O Ocidente não aceita a independência de nenhum país, não importa se é a pequena Síria ou a grande Rússia. Qual é o problema deles com a Rússia? Ela defender o seu direito de dizer sim ou não? O Ocidente quer que ela esteja sempre de acordo. O mesmo problema tem a Síria com o Ocidente", defendeu Assad, admitindo, contudo, que o seu país possa ser uma das razões para o esfriar de relações entre a Rússia e os EUA. Recorde-se que o Ocidente acusa o Governo sírio e os aliados militares russos de crimes de guerra, por atingirem deliberadamente alvos civis.
Para Assad, o problema maior é o terrorismo e os russos só querem lutar contra ele, na Síria, na Rússia, e "em toda a região". "Os russos perceberam que o terrorismo cresceu no mundo desde a guerra contra o Afeganistão, do início dos anos oitenta até a atualidade, e que é como uma carta que pode ser sempre atirada para cima da mesa". Admite, no entanto, ser difícil combatê-lo: é como "um videojogo, mata-se um, aparecem dez", pelo que "o mais importante é combater a ideologia".
Por fim, o líder sírio justifica o pedido de ajuda à Rússia com o facto de os "inimigos" terem chamado "combatentes do exterior - de mais de cem países". "A política da Rússia assenta na moral e não em interesses pessoais", disse, adiantando que a Arábia Saudita (sunita) fez depender o seu apoio ao Governo sírio (xiita) de um corte de relações com o Irão (xiita). Ora, a guerra terrestre síria está a ser levada a cabo, em parte, pelos Guardas da Revolução iranianos. Do outro lado, os rebeldes sunitas contam com a Turquia, os EUA e as monarquias do Golfo. Além de todos estes, há o "Estado Islâmico", a desculpa para a internacionalização do conflito.