A Ucrânia e a Rússia assinaram, esta sexta-feira, acordos separados com a Turquia e a ONU que irá permitir a exportação de cerca de 25 milhões de cereais ucranianos, bloqueados em 80 portos do Mar Negro. O acordo esteve a ser negociado durante dois meses.
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O acordo "vai trazer alívio aos países em desenvolvimento, à beira da falência, e às pessoas mais vulneráveis, à beira da fome, além de ajudar a estabilizar os preços globais dos alimentos", defendeu António Guterres, secretário-geral da ONU, na abertura da cerimónia de assinatura do documento.
"Hoje há um farol no Mar Negro. O farol da esperança. O farol da possibilidade. O farol de alívio num mundo que precisa mais do que nunca", afirmou.
O líder das Nações Unidas elogiou a Ucrânia e a Rússia por terem conseguido ultrapassar os obstáculos e chegar a um acordo e agradeceu à Turquia pela mediação e pela participação que terá no seu cumprimento.
Numa cerimónia realizada no Palácio Dolmabahçe, na cidade turca de Istambul, com a parceria da Turquia e da ONU, foram assinados dois documentos - já que a Ucrânia recusou assinar o mesmo papel que a Rússia - devendo o acordo vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, renovável.
Segundo o que já se sabe que foi acordado, depois de dois meses de negociações, o documento vai criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante da ONU, que deverão estabelecer o cronograma de rotação de navios no Mar Negro.
O acordo implica também que passe a ser feita uma inspeção dos navios que transportam os cereais para garantir que não levam armas para a Ucrânia. Estas inspeções, que serão realizadas tanto à saída como à chegada dos navios, deverão acontecer nos portos de Istambul.
Os documentos foram assinados pelo ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, e pelo ministro das Infraestruturas ucraniano, Oleksandr Kubrakov. Cada um assinou um acordo, com textos iguais, com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar.
Erdogan reconheceu que "não foi fácil" chegar até à assinatura dos documentos e disse esperar que o acordo, quase cinco meses após o início da invasão russa da Ucrânia, "fortaleça a esperança de acabar com esta guerra".
A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de trigo, milho e óleo de girassol, mas a invasão russa ao país, iniciada em 24 de fevereiro, e o bloqueio naval dos seus portos interromperam as exportações.
Alguns cereais têm sido transportados para a Europa por via ferroviária, rodoviária e fluvial, mas os preços destes alimentos essenciais dispararam e puseram em risco de fome vários países em desenvolvimento.
O acordo prevê a passagem segura de navios através de corredores, que os dois lados se comprometem a respeitar, e prevê o estabelecimento de um centro de controlo em Istambul, composto por representantes da ONU, da Turquia, da Rússia e da Ucrânia, para administrar e coordenar o processo.