
Revoltosos, que hoje deixaram a capital berra a ferro e fogo, temem prejuízos com entrada de bens mais baratos da América do Sul
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O acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), que estava previsto para sábado, só será assinado em janeiro.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou os líderes da UE de que adiou a viagem ao Brasil para o próximo mês, depois de, a propósito da cimeira que juntou esta quinta-feira, em Bruxelas, os chefes de Governo do bloco, agricultores terem bloquearem ruas com tratores e atirado batatas. O presidente francês voltou a expressar o desagrado de Paris com o texto do acordo, enquanto o primeiro-ministro português considerou "imperdoável" não fechar a parceria com os sul-americanos.
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O protesto na capital belga estava marcado para o meio-dia (uma hora a menos em Portugal Continental), mas, desde a madrugada, centenas de tratores foram estacionados nas principais vias da cidade. A principal sindical agrícola europeia, a Copa-Cogeca, estimava a participação de dez mil pessoas contra o acordo com o Mercosul e o corte nos apoios da Política Agrícola Comum.
"Como uma ditadura"
Perto da hora do início oficial da manifestação, atiraram-se batatas e pedras perto do edifício do Parlamento Europeu. Alguns participantes lançaram artefactos pirotécnicos e atearam fogo sobre caixotes e pneus. "Estamos aqui para dizer não ao Mercosul", contou à agência France-Presse o produtor de leite belga Maxime Mabille. "É como se a Europa se tivesse tornado numa ditadura", afirmou, acusando a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de tentar "impor o acordo".
Citando o problema da "competitividade" da UE, a chefe do Executivo comunitário apelou à conclusão do acordo com o grupo composto por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Já o presidente do Conselho Europeu, António Costa, esteve com representantes dos agricultores numa reunião "boa e produtiva", assegurando que "a Europa estará sempre ao lado deles".
França mantém-se, todavia, intransigente nesta questão. "Em relação ao Mercosul, consideramos que não está tudo certo e que este acordo não pode ser assinado", declarou o presidente Emmanuel Macron. Hungria, Polónia e Itália demonstraram também oposição ao acordo. Apesar do mecanismo de salvaguarda aprovado pelo Parlamento Europeu na terça-feira, Roma quer medidas de proteção adicionais para o setor agrícola.
O acordo é apoiado por países como Alemanha, Espanha e Portugal. Luís Montenegro disse ser "crucial" que se chegue "mesmo a um entendimento e à subscrição final" do texto. "Será imperdoável se não conseguirmos consumar um acordo que demorou 25 anos a estabelecer-se", apontou o primeiro-ministro português.
Brasil ameaça desistir
"Se não for concluído, não há mais nada a negociar e vamos direcionar a nossa atenção e energia para outros parceiros importantes que estão na fila", frisou Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, país com a presidência rotativa do Mercosul.
