Um novo estudo procurou identificar os fenómenos que assolaram a Terra após a queda do asteroide que dizimou os dinossauros há 66 milhões de anos. Os investigadores sugerem que, com o choque, formaram-se ondas enormes de mais de um quilómetro de altura e terramotos cujas réplicas se fizeram sentir meses depois.
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O período Cretáceo teve um fim após o impacto de um asteroide, com o nome de "Chicxulub", de 14 quilómetros de diâmetro, perto da península mexicana de Yucatán. Este fenómeno é conhecido por ter desencadeado tsunamis, erupções vulcânicas e incêndios florestais por todo o mundo.
Para além disso, o evento deu origem à extinção da maioria dos dinossauros e três quartos das espécies de plantas e animais da Terra.
De maneira a encontrar mais dados sobre o ocorrido, um novo estudo, publicado a 4 de outubro, detalhando as descobertas foi publicado na revista "American Geophysical Union Advances".
A explicação do tsunami
O estudo foi realizado por cientistas da Universidade de Michigan, EUA, que produziram uma simulação global dos tsunamis, que se seguiram ao impacto, recorrendo a análises geológicas de 120 locais do mundo.
As simulações foram construídas com base em dados de estudos anteriores, que mostram um asteroide de 14 quilómetros de largura a viajar a 43 mil quilómetros por hora que colidiu em crosta granítica coberta de detritos espessos e oceano raso. A partir dessa descoberta, a equipa conseguiu investigar as ondas produzidas nos minutos e horas após o impacto.
Após o impacto do asteroide, houve aumentos extremos do nível da água em duas fases, a onda da borda e as ondas subsequentes do tsunami.
Nos primeiros três minutos, ondas projetadas para fora da cratera podem ter atingido uma altura de cerca de cinco quilómetros, mas rapidamente voltaram a cair na superfície. "Se acabares de atirar uma pedra para uma poça, há aquele respingo inicial; essa é a onda da borda", diz Molly Range, cientista da Universidade de Michigan, EUA, e investigadora correspondente do estudo.
Dez minutos mais tarde, um tsunami em forma de anel com mais de um quilómetro de altura empurrou o mar em todas as direções. Passado uma hora, o tsunami passou do México para o Oceano Atlântico Norte, atingindo o Pacífico após quatro horas. Na marca das 24 horas, as ondas praticamente circundaram todo o planeta.
A investigadora acredita que o tsunami foi 30 mil vezes mais forte do que o tsunami de 26 de dezembro de 2004 no Oceano Índico, um dos maiores já registados, que matou mais de 200 mil pessoas.
A simulação do "megatsunami"
Parte da simulação do estudo usou um programa de computador chamado hidrocódigo para simular os primeiros dez minutos do impacto do "Chicxulub", incluindo a formação da cratera e o início do tsunami.
Os programas "Hydrocode" têm como função partir digitalmente o sistema em pequenos blocos semelhantes aos Legos e, de seguida, calcular as forças que atuam sobre ele em três dimensões.
Após o hidrocódigo produzir uma simulação dos estágios iniciais do impacto e os primeiros dez minutos do tsunami, a simulação foi entregue a um par de modelos desenvolvidos pela NOAA para analisar a propagação do tsunami pelos oceanos a nível global. O primeiro foi chamado MOM6.
Os investigadores foram obrigados a fazer suposições sobre a forma e inclinação do fundo do mar, bem como a profundidade do oceano e a estrutura da cratera do asteroide. Essas informações, juntamente com a forma da onda do tsunami do modelo de hidrocódigo, foram inseridos para o MOM6.
Outras descobertas
Para além da construção da simulação, a equipa de investigação retificou as evidências geológicas para estudar o caminho e a força do tsunami.
O coautor de Molly Range, Ted Moore, encontrou indícios de grandes ruturas em planaltos no oceano e à beira-mar em mais de 100 locais, apoiando os resultados das simulações do modelo do estudo.
O modelo previu velocidades de fluxo de tsunami de 20 centímetros por segundo ao longo da maioria das costas em todo o mundo, mais do que suficiente para perturbar e erodir os sedimentos.
Os investigadores dizem que as descobertas geológicas adicionaram confiança às suas simulações. No futuro, a equipa espera saber mais sobre a quantidade de inundações que acompanharam o tsunami.
"Gostaríamos de olhar para a inundação, o que não fizemos apenas com este trabalho atual", disse Molly Range.