Reconhecimento divide Esquerda e Direita espanhola. Asturianos nas ruas pressionam deputados regionais e nacionais.
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Espanha conta com diferentes identidades dentro do território que, durante anos, têm lutado para sobreviver. A língua sempre foi considerada uma ferramenta para as autonomias se diferenciarem da restante comunidade nacional. O catalão, o galego, o valenciano, o basco e o aranês partilham junto com o castelhano o privilégio de serem as línguas oficiais em Espanha. Para o grupo fechado querem agora entrar o asturiano e o aragonês, que estão imersos num debate socioinstitucional sem data para ser resolvido.
O Partido Socialista aprovou no Congresso dos Deputados, em março, uma iniciativa para as autonomias poderem reformar os estatutos e poderem reconhecer novas línguas oficiais. O apoio governamental trouxe novamente esperança às Astúrias e a Aragão, mesmo sendo ainda consideradas minoritárias.
Um terço da população nas Astúrias identifica-se como falante do asturiano, mas existem diferentes níveis de uso. Há gente que aprendeu desde criança e o usa quotidianamente, bem como, existe ainda outro grupo de usuários que fala diariamente, alternando o asturiano com o castelhano.
Enraizado no mundo rural
Como costuma ser habitual, o asturiano, também conhecido como bable, está mais enraizado no meio rural, mas está a ganhar força nas cidades, com grandes reivindicações como a manifestação que juntou mais de 30 mil pessoas no Oviedo, em outubro. "O asturiano deve ser reconhecido como a língua do povo, da classe trabalhadora porque tradicionalmente foi desprezada pelas elites e, inclusive, negava a ascensão social", analisa Xulio Viejo, linguista e professor da Universidade do Oviedo, sobre uma língua que, além de aparecer em centenas de cartazes pela autonomia, também ganhou protagonismo nos programas da rádio e televisão públicas.
Ao contrário de outras regiões de Espanha, como a Catalunha ou o País Basco, o asturiano não está ligado a nenhum movimento independentista. "O grande debate público nas Astúrias sempre foi a reclamação identitária do asturiano, mas nunca existiram partidos políticos nacionalistas", diz Viejo.
Mais perto do que nunca
A batalha sociolinguística para conseguir que o executivo das Astúrias considere o asturiano uma língua cooficial prolonga-se desde o início da transição democrática em Espanha. "A primeira grande manifestação nas Astúrias após a morte de Franco foi para reivindicar o uso do asturiano e foi um grande sucesso", explica Viejo, sobre a manifestação de 1976, em Gijón, sob o lema "Bable nes escueles" (asturiano na escola, em português). Atualmente, segundo a terceira sondagem da Academia da Língua Asturiana, apresentada durante o verão, 53% dos asturianos apoia o pedido de oficialidade.
Um desejo que está mais perto do que nunca e que só depende da aritmética política, tanto no parlamento regional, como em Madrid. Pela primeira vez nas Astúrias existe uma maioria política que apoia a reforma estatutária para incluir o asturiano e a galego-asturiano, variante falada nas proximidades de Galiza, como línguas oficias na região. O executivo socialista conta com o apoio de Podemos, Esquerda Unida e Foro Astúrias, que finalmente aceitou a proposta apesar da forte pressão da direita, - Vox, Ciudadanos e Partido Popular - , que se opõe firmemente à cooficialidade.
Se o asturiano se converter numa língua oficial introduzirá mudanças importantes. As administrações seriam obrigadas a usar a língua e as escolas deveriam incluir no programa educativo o ensino do asturiano em todas os níveis, já que desde 1984 é uma cadeira voluntária.