Shamsud-Din Jabbar, um veterano do Exército de 42 anos, que atropelou uma multidão no dia de Ano Novo em Nova Orleães, nos Estados Unidos, gravou imagens da área durante um passeio de bicicleta pelo French Quarter em outubro, utilizando os mesmos óculos inteligentes da Meta que usava durante o ataque.
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A notícia é avançada pelo jornal norte-americano "The Washington Post", que adianta que as filmagens recuperadas pelas autoridades mostram o planeamento por trás do ataque do dia de Ano Novo, incluindo a colocação de dispositivos explosivos improvisados pelo suspeito na Bourbon Street.
Numa conferência de imprensa, Lyonel Myrthil, o agente especial do FBI responsável por Nova Orleães, disse que Jabbar, que morava na área de Houston, fez viagens à cidade em outubro e novembro, onde ficou na mesma casa arrendada. Nessas visitas, esteve em Bourbon Street, onde gravou imagens da área com os óculos inteligentes da Meta, dona das redes sociais Facebook e Instagram, que recusou fazer comentários sobre o caso.
Os óculos Meta, feitos em parceria com a Ray-Ban, são armações com uma câmara embutida, altifalantes e inteligência artificial (IA) que podem ser controlados com a voz, botões e alguns gestos simples. Algumas funções, como ouvir música ou interagir com o assistente de IA da Meta, exigem que o dispositivo esteja emparalheado com um telemóvel ou tenha acesso à internet. Uma das principais vantagens dos óculos é a possibilidade de captar imagens e vídeos com a câmara integrada e, em seguida, enviar esses arquivos para o Instagram ou Facebook. Além disso, também é possível fazer transmissões ao vivo, mas apenas para as plataformas sociais compatíveis da Meta. Os óculos também permitem fazer chamadas de áudio e vídeo, enviar mensagens ou ouvir música.
Os óculos inteligentes terão permitido que Jabbar captasse imagens detalhadas da área sem chamar a atenção. Os óculos foram recuperados quando foi abatido pelas autoridades. “Acreditamos que ele os estava a usar durante toda a noite” do ataque", disse Myrthil, segundo o mesmo jornal. “Não temos nenhuma indicação de que estava realmente a gravar, mas estava a usar aqueles óculos".
O FBI publicou uma compilação de vídeos, um dos quais inclui Jabbar a testar os óculos num espelho e imagens de videovigilância em que é possível ver o atacante na área antes do atropelamento.
Explosivos caseiros nunca usados nos EUA nem na Europa
Jabbar chegou ao estado do Louisiana na terça-feira. Imagens mostram o homem a descarregar uma carrinha no exterior de uma casa arrendada na Mandeville Street, em Nova Orleães.
Segundo o agente especial Joshua Jackson, as autoridades recuperaram armas de fogo e "silenciadores de fabricação privada", embora tenha alertado que ainda estão a ser feitos testes para determinar se os dispositivos abafam, de facto, o som dos tiros. A casa arrendada, que continha pelo menos um silenciador e "material explosivo" deveria incendiar-se nas horas do ataque, um incêndio que se acredita que seria provocado por Jabbar.
No dia do ataque, Jabbar estacionou o veículo, uma Ford F-150 alugada, perto da cena do ataque antes de colocar "dispositivos explosivos improvisados" ao redor da Bourbon Street entre as 1.50 horas e as 2.20 horas. Às 3.15 horas, atropelou a multidão, matando pelo menos 14 pessoas, uma dos quais um lusodescente de 25 anos, e começou a disparar com uma arma de fogo antes de ser abatido pelas autoridades.
Os explosivos foram neutralizados antes que pudessem ser detonados. Jackson disse que Jabbar usou um material explosivo quimicamente semelhante ao encontrado no explosivo C-4, mas Jabbar tentou detonar os explosivos com um fósforo elétrico em vez do detonador necessário. "O que foi diferente é que não usou o dispositivo correto para o detonar", disse Jackson. "E isso é apenas indicativo da sua inexperiência e falta de compreensão de como o material pode ser detonado", acrescentou.
De acordo com a "NBC News", os explosivos caseiros usados por Jabbar nunca foram usados nem nos Estados Unidos nem na Europa para fabricar bombas. As autoridades estão a investigar como é que o homem teve conhecimento sobre este explosivo e como o conseguiu fabricar.
Viagens ao Egito e ao Canadá
Antes do ataque, também viajou para o Cairo no verão de 2023, antes de voar para Ontário, no Canadá, e depois regressou aos Estados Unidos.
"Os nossos agentes estão a obter respostas sobre onde ele foi, com quem se encontrou e como essas viagens podem ou não estar relacionadas com as suas ações aqui na nossa cidade de Nova Orleães”, disse Myrthil.
Segundo as autoridades, Shamsud-Din Jabbar agiu sozinho no massacre que matou pelo menos 14 pessoas. O homem tinha uma bandeira que representava o Estado Islâmico no veículo e tinha prometido seu apoio ao grupo extremista. Não foram encontradas provas de cúmplices nos Estados Unidos, embora a investigação continue em andamento. Em vídeos publicados online, Jabbar confirmou que "se juntou ao Estado Islâmico no início deste ano", de acordo com a "NBC News".
O presidente dos Estados Unidos cessante, Joe Biden, que deverá visitar Nova Orleães esta segunda-feira, reiterou que as autoridades estabeleceram "além de qualquer dúvida razoável" que Jabbar realizou o ataque sozinho.
O veterano do Exército dos Estados Unidos serviu em funções de tecnologia da informação nas forças armadas e, mais tarde, nas empresas de serviços profissionais Deloitte e Ernst & Young.
Autoridades em alerta devido a grandes eventos
Este domingo, as autoridades alertaram sobre o elevado potencial de ameaças, dada uma série de grandes eventos públicos nos próximos meses. Nesse mesmo dia, a autarca de Nova Orleães, LaToya Cantrell, disse que a cidade vai contratar um especialista para determinar se os postes que a cidade usa para proteger pedestres são suficientes para eventos de alto nível, incluindo o Super Bowl e as celebrações do Carnaval.