Ataques russos à rede ferroviária ucraniana triplicaram. Prejuízo ultrapassa os 860 mil milhões

Ataque russo a uma estação ferroviária em Sumy feriu pelo menos 30 pessoas
Foto: AFP
Moscovo está a tentar destruir as rotas logísticas da Ucrânia, aumentando os ataques às linhas ferroviárias. Já foram registados mais de 800 desde o início do ano.
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A rede ferroviária na Ucrânia é responsável pelo transporte de mais de 63% da carga do país, incluindo ajuda humanitária, e 37% do tráfego de passageiros, segundo as estatísticas locais. Os recursos militares provenientes de países estrangeiros também são transportados, maioritariamente, por comboio.
De acordo com Oleksii Kuleba, vice-primeiro-ministro responsável pelas infraestruturas ucranianas, os ataques à rede ferroviária desde o início de 2025 já causaram prejuízos no valor de um bilião de dólares (mais de 860 mil milhões de euros).
"Se compararmos apenas os últimos três meses, os ataques triplicaram", afirmou Kuleba, citado pelo jornal britânico "The Guardian". "Desde o início do ano, ocorreram 800 ataques à infraestrutura ferroviária e mais de três mil objetos ferroviários foram danificados. O que temos observado nestes ataques crescentes é que eles têm como alvo os comboios, especialmente tentando matar os maquinistas".
Desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro de 2022, que os aeroportos e as rotas aéreas na Ucrânia estão encerrados. As viagens são, na sua maioria, realizadas através dos comboios, inclusive os líderes mundiais em visitas diplomáticas.
"Não se trata apenas da quantidade [de ataques], mas também da abordagem das forças inimigas", explica Oleksandr Pertsovskyi, responsável pela ferrovia ucraniana, Ukrzaliznytsia. "Agora, como têm drones Shahed muito precisos, estão a atacar locomotivas individuais".
A Ucrânia já implementou medidas adicionais para proteger a rede ferroviária, através do equipamento de comboios com sistemas de combate aos drones e equipas de defesa aérea dedicadas às ferrovias.
No início deste ano, o edifício principal da estação ferroviária de Lozova, na região de Kharkiv, foi gravemente danificado por um ataque com drones. Em outubro, outro ataque em Shostka, região de Sumy, feriu pelo menos 30 pessoas. Ainda assim, os passageiros continuam a fazer fila para embarcar em comboios por todo o país.
Foto: Genya Savilov / AFP
Tetyana Tkachenko, responsável pela estação de Lozova, indicou ao jornal britânico que a ferrovia "fica numa importante junção" e que é possível viajar para quatro direções: Dnipro, Sloviansk, Poltava e Kharkiv. Sobre um ataque russo recente, refere que "ficou claro que o alvo era a estação". A plataforma ficou danificada, bem como a sala de espera principal. A fachada do edifício principal está queimada e desmoronada em algumas zonas.
"A ameaça atualmente é realmente grande", referiu Tkachenko. "Os russos estão a atacar diretamente onde as pessoas se reúnem e querem danificar os carris e as locomotivas. Querem destruir as linhas de alta tensão", garantiu.
Comboios são alvos fáceis
As linhas são utilizadas para o transporte de passageiros, mercadorias e apoio militar, incluindo a retirada de soldados feridos nos combates na frente oriental.
Oleksii Kuleba acredita que a Rússia tem três objetivos: destruir a capacidade logística da Ucrânia no sul para impedir o transporte de mercadorias para os portos marítimos; interromper o tráfego ferroviário perto da linha da frente em regiões como Chernihiv e Sumy; e "destruir tudo" no Donbas, o coração industrial do leste da Ucrânia.
Numa entrevista à Associated Press, Serhii Beskrestnov, militar ucraniano e especialista em drones, explica que os comboios são particularmente vulneráveis aos drones devido à sua velocidade lenta de deslocação e rotas previsíveis.
"Se os russos continuarem a atacar comboios a diesel e elétricos, chegará muito em breve o momento em que os trilhos ainda estarão intactos, mas não teremos mais nada para circular neles", admite Beskrestnov.

