A Áustria arrisca-se a ter um presidente anti-imigrantes e contra os refugiados e adepto da perspetiva ultranacionalista face às decisões da União Europeia (UE) caso Norbert Hofer vença as eleições presidenciais do próximo domingo.
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A 22 de maio deste ano, o ecologista Alexander Van der Bellen venceu por meia unha negra as eleições presidenciais austríacas. Irregularidades na contagem dos votos promoveram a necessidade de repetição do ato eleitoral. Norbert Hofer, o derrotado de há meio ano, agradece a segunda oportunidade. Inclusivamente, as mais recentes sondagens apontam-no como favorito. Após o Brexit e a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a direita populista esfrega as mãos. E não é de tristeza.
Hofer tem 45 anos e uma predileção por armas. Regra geral, uma Glock acompanha-o. Casado pela segunda vez, tem quatro filhos. Ele é protestante, o resto do agregado familiar é católico.
Rosto proeminente do Partido da Liberdade, o nativo de Vorau propôs, em fevereiro do ano passado, que Tirol Sul, província autónoma de língua alemã administrada por Itália e previamente parte do império austro-húngaro, fosse absorvida pela Áustria.
Já neste ano, afirmou que o país deveria levar a cabo um referendo sobre a permanência na UE caso o Parlamento Europeu venha a ter poderes reforçados ou se a Turquia fosse aceite no grupo dos agora 27. Porque, para Hofer, "o Islão não tem lugar na Áustria".
Aliás, as posições de Hofer dizem bastante sobre o quanto o populismo tem conseguindo capitalizar a crise migratória e a insatisfação generalizada com os partidos tradicionais. Prova disso é que o engenheiro aeronáutico conseguiu dividir a Áustria, através de um discurso eurocético e anti-imigração e apresentando-se como um "homem do povo".
Esta imagem é bem recebida sobretudo junto do eleitorado com média ou baixa formação. Hofer diz que vai às compras de bicicleta e que corta a relva no fim-de-semana. "A minha mulher cuida de idosos e vivemos numa casa comum em Burgenland. Somos uma família normal."
"Lobo em pele de cordeiro"
A carreira política do candidato presidencial começou cedo. Aos 24 anos, chegou a responsável do braço do Partido da Liberdade em Eisenstadt. Um ano mais tarde, assumiu a função de secretário estadual. Desde 2013, é membro da direção do Conselho Nacional, a câmara baixa do Parlamento.
Dez anos antes, um acidente de parapente deixou-lhe sequelas permanentes numa perna.
Durante a campanha eleitoral, Hofer mostrou-se como o rosto simpático do Partido da Liberdade. Mas a insatisfação sobressai. Na sua página na internet, numa secção de perguntas e respostas, deixa algumas ideias. "Leva-me ao desespero o fato de os políticos que se encontram no poder terem deitado fora o legado dos nossos pais e avós."
À pergunta sobre o projeto a ser implementado o mais rapidamente possível, responde: "A proteção das nossas fronteiras". Num comício, disse querer "uma vedação idêntica à que existe na Hungria".
A revista austríaca "Profil" já concluiu que Hofer "seria um presidente radical num contexto ideológico duvidoso."
E não parou ali. "É um lobo em pele de cordeiro. Está disposto a ampliar radicalmente as competências do chefe de Estado, como ninguém ousou antes dele. Ideologicamente, está num espaço germânico-nacionalista." Em resumo, Hofer "quer uma república travestida de reino: se vocês não concordarem, usarei a força."