O autarca de Champlan, a 18 quilómetros de Paris, recusou o funeral de um bebé de etnia cigana, alegando que não havia espaço no cemitério e que os lugares existentes são para "quem paga impostos". A decisão causou polémica e indignação.
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Christian Leclerc, autarca de Champlan, comunidade do departamento parisiense de Essonne, não autorizou o funeral no cemitério local de um bebé de etnia cigana.
Maria Francesca, de dois meses e meio, faleceu na noite de 25 para 26 de dezembro no hospital de Corbeil. A sua família pretendia realizar o funeral na localidade de Champlan, onde reside, mas o autarca não autorizou, alegando que não havia espaço suficiente no cemitério e que os lugares existentes são para quem "paga impostos locais". A justificação, prestada ao diário "Le Parisien", gerou uma onda de críticas e indignação em França.
"Recusar o enterro de uma criança pela sua origem é uma ofensa à sua memória, uma injúria ao que representa França", escreveu o primeiro-ministro francês Manuel Valls, na rede social Twitter, este domingo.
No sábado, a secretária de Estado da Família, Laurence Rossignol, também condenou o caso, no Twitter: "se perder um bebé já é uma tragédia enorme, que lhe recusem uma sepultura é uma humilhação desumana".
Perante a controvérsia, Christian Leclerc alega que as suas palavras "foram mal interpretadas" e assegura que nunca negou à família um lugar para realizar o funeral. "Em nenhum momento o neguei. Tínhamos como opções Corbeil e Champlan. Dei autorização na quarta-feira de manhã para qualquer uma das opções", garantiu, em declarações citadas no "El Mundo".
Christian Leclerc explica que o funcionário que tratou do caso "não está familiarizado" com os procedimentos, pelo que, "houve um mal-entendido na cadeia de decisão". Este domingo à noite, Christian Leclerc voltou a lamentar o "erro administrativo" que afetou a família de Maria Francesca e disse, ao "Le Parisien", desejar "vivamente" que o funeral, previsto para esta segunda-feira em Wissous, "possa realizar-se em Champlan".
A mãe da bebé deu voz à indignação da família. "Não pedimos nada para nós, nem pedimos à autarquia que nos aceite. Só queremos enterrar a nossa menina. Com isto, só nos causou mais dor", declarou ao "Le Parisien".
Associações de defesa dos imigrantes e organizações de direitos humanos, que apoiam os ciganos romenos que vivem em acampamentos ilegais em França, anunciaram que vão denunciar o caso à justiça.
Para Loïc Gandais, presidente de uma associação que apoia famílias romenas em Essonne (ASEFRR), o autarca "justifica-se agora dizendo que a morte da bebé foi declarada em Corbeil-Essonne", mas isso só revela "racismo, xenofobia e estigma social" face a esta comunidade.
Segundo a associação, os pais de Maria Francesca têm outros dois filhos e vivem em França há, pelo menos, oito anos. Estão atualmente num acampamento, sem água nem eletricidade, nas imediações das pistas do aeroporto parisiense de Orly.