O Governo do Senegal enviou, esta sexta-feira, efetivos para a capital, onde, após os confrontos de quinta-feira, se receia mais violência caso o líder da oposição, Ousmane Sonko, seja detido. O candidato à presidência foi condenado a dois anos de prisão, e após a sentença do principal opositor ao atual Executivo, seguiu-se um dos dias mais mortíferos em protestos políticos dos últimos anos no país, com nove mortos, relatou a agência AFP.
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De acordo com a agência francesa, homens fardados e com espingardas de assalto foram destacados em diversos pontos de Dacar, porém, não houve confirmações das autoridades senegalesas se o Governo ou as Forças Armadas enviaram o Exército - a AFP refere que não foi possível identificar se os efetivos enviados nesta sexta-feira eram soldados ou polícias militares com camuflados.
Os apoiantes de Sonko entraram em confronto na quinta-feira com a polícia, na capital e em várias cidades senegalesas. Pedras foram atiradas, veículos foram incendiados e lojas foram saqueadas, enquanto a polícia, em resposta, utilizou gás lacrimogéneo para tentar controlar a situação, relatou o jornal "The Guardian", e complementou que nove pessoas foram mortas devido aos violentos protestos.
As manifestações iniciaram-se logo após a condenação de Sonko a dois anos de prisão por "corrupção de menores", um crime que inclui, na legislação local, a prática de relações sexuais com menores de 21 anos. O líder da oposição foi acusado, no início de 2021, por violação e ameaças de morte a uma jovem massagista.
O opositor e os seus apoiantes denunciam a "instrumentalização" da justiça pelo atual presidente Macky Sall, no poder desde 2012, uma vez que a condenação de Sonko o impede de concorrer às próximas eleições presidenciais, previstas para fevereiro de 2024.
CONDENAÇÕES INTERNACIONAIS
Esta sexta-feira, diversas organizações internacionais reagiram à escalada da violência no país africano. Após o ministro do Interior do Senegal, Antoine Félix Abdoulaye Diome, afirmar que o Estado senegalês decidiu suspender temporariamente a utilização de algumas aplicações digitais, "através das quais são feitos apelos à violência e ao ódio", a Amnistia Internacional condenou as "restrições no acesso às redes sociais" e "ao direito à liberdade de expressão e de informação". O sinal do canal de televisão privado Walfadjri também foi cortado pelas autoridades senegalesas, de acordo com a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras.
O vice-porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, Farhan Haq, declarou que António Guterres "condena veementemente o uso da violência, pede calma e pede a todos os atores que exerçam moderação".
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), emitiu um comunicado onde condenou "veementemente a violência dirigida contra as forças de segurança, a propriedade pública, a propriedade privada e a perturbação da ordem pública".
Na antiga potência colonial, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês apelou "à contenção, ao fim da violência e a uma resolução desta crise, em conformidade com a longa tradição de democracia do Senegal".