Avós e tios de Émile vão continuar detidos. Pequena vila francesa entre o "choque" e o "medo da verdade"
É uma história que continua a ser seguida com atenção em França e em todo o Mundo. Depois de ter detido os avós e os tios maternos pela morte de Émile, de dois anos e meio, a polícia francesa anunciou o prolongamento da detenção dos quatro membros da família.
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Os avós, que estavam responsáveis pelo neto, deram o alerta às autoridades, que abriram uma investigação ao caso e mobilizaram para o local vários meios de busca. O corpo do menino foi encontrado em março do ano passado "perto da aldeia de Vernet", mas a causa da morte continua por determinar. O funeral público de Émile foi realizado em 8 de fevereiro na basílica de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume (Var), durante uma missa em latim, na presença de toda a família e de várias centenas de pessoas. Poucas horas depois da cerimónia, os avós da criança emitiram uma declaração, proclamando que "o tempo de silêncio deve dar lugar à verdade".
Por tudo isto, esta terça-feira, foi um dia de choque para a cidade de La Bouilladisse, no sudeste francês, quando foram detidos quatro familiares suspeitos da morte da criança. Os avós maternos e dois tios, detidos a quase 200 quilómetros de Haut-Vernet, onde aconteceu o desaparecimento do rapaz há um ano e meio. São suspeitos de homicídio voluntário e de ocultação de cadáver.
Segundo o procurador público de Aix-en-Provence, as detenções foram "planeadas" e fazem parte de "uma fase de verificação e comparação de elementos e informações recolhidas nos últimos meses".
Segundo a emissora francesa "BFMTV", durante o primeiro dia de custódia policial, a polícia não apresentou qualquer prova contra os detidos. Durante as primeiras 24 horas, os quatro membros da família foram interrogados individualmente pelos investigadores, que analisaram os laços familiares, os relacionamentos entre eles e também os seus horários. As audiências concentraram-se em particular no avô de Émile.
Também foi iniciado o interrogatório de uma dúzia de testemunhas, segundo uma fonte próxima da investigação.
A advogada Isabelle Colomani, que representa Philippe Vedovini, disse aos jornalistas em Marselha, na noite de terça-feira, que o tempo inicial de detenção de 24 horas do cliente tinha sido prolongado. Já o advogado de Anne Vedovini, Julien Pinelli, indicou que esta permaneceria sob custódia para mais interrogatórios. Além disso, de acordo com a "BFMTV", também os tios de Émile viram a sua detenção prolongada.
Foi obtido um mandado de busca na casa dos Vedovinis e foram apreendidos dois veículos: um Hyundai azul marinho e um reboque para cavalos que estava coberta com plástico.
"Total cooperação”
Isabelle Colombani, advogada de Philippe Vedovini, garantiu, esta quarta-feira, que o avô de Émile demonstrou "total cooperação". "Vamos retomar essa maratona judicial e veremos um pouco sobre as perguntas que serão feitas e as respostas que serão dadas", afirmou.
Já Julien Pinelli, advogado de Anne Vedovini, disse à "BFMTV", disse que a situação é uma "provação". "É óbvio que, para uma avó que perdeu o neto em circunstâncias tão trágicas, ser interrogada sobre as circunstâncias deste caso enquanto está detida é inevitavelmente uma provação", afirmou Pinelli.
Os quatro detidos podem permanecer detidos, no máximo, 48 horas. O advogado de Philippe Vedovini, avô de Émile, acredita que "o período de custódia policial deve ser cumprido" até às 6.30 horas de quinta-feira.
Entre o "choque" e o "medo" de saber a verdade
Em La Bouilladisse, uma cidade de 6500 habitantes onde os avós de Émile foram presos em casa, a notícia da detenção foi recebida com sentimentos mistos. Enquanto alguns disseram estar "chocados", outros deram a entender que não estavam assim tão surpreendidos com a reviravolta dos acontecimentos.
"Estou um pouco chocado. Isto surpreende-me", disse um morador à "BFMTV". Outro disse que também ficou "muito surpreendido" com a extensão da custódia policial. "Nunca teria acreditado. Não é possível que a família pudesse ter feito uma coisa destas".
Por sua vez, um morador, identificado como Gilles, considerou que este anúncio pode sinalizar o fim do calvário da vila, que tem sido o centro de notícias dramáticas há meses. "Esperamos respostas há muito tempo. Hoje, vemos que a investigação está a avançar. Sei que a verdade será muito difícil de ouvir. Vamos esperar até ao fim da detenção para obter mais informações. Também não devemos tirar conclusões precipitadas. Mas a verdade vai magoar-nos muito", insiste Gilles.
"É bastante paradoxal. Ao mesmo tempo, quero saber o que aconteceu porque permanecer na dúvida é sempre muito desconfortável. E também há o medo. O medo de descobrir uma verdade que pode ser pior do que a que imaginávamos", disse Magali Lamy, moradora de Le Vernet e autora de um livro sobre o tratamento do caso Émile e seu impacto na vila. "Emocionalmente, é difícil porque imagino vários resultados possíveis. Isto está a circular um pouco na minha cabeça, e ao mesmo tempo digo a mim mesma que é uma coisa boa porque a investigação continua, eles não vão desistir", acrescentou, afirmando que espera que depois de "muitos meses", os moradores de Le Vernet finalmente consigam descobrir o que aconteceu ao pequeno Émile.
Em Seyne, uma vila perto de Le Vernet, os moradores também estão preocupados com o andamento da investigação. "Acho isto muito terrível, vindo da família. Quatro membros da família são suspeitos, é bem perturbador", comentou Véronique à "BFMTV". "São vilas pequenas, por isso, obviamente, todos têm perguntas. Precisamos de uma resposta para os moradores e para as vilas vizinhas".