Embora tenha começado por trabalhar como médico, Ayman al-Zawahiri ficou conhecido por ser um dos rostos da fundação da Jihad Islâmica Egípcia. Mais tarde, de mãos dadas com Bin Laden, integrou a Al-Qaeda e ajudou a arquitetar um dos maiores ataques terroristas da História: o 11 de Setembro de 2001, que vitimou mais de três mil pessoas. Foi morto no último sábado, aos 71 anos.
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"Esteve profundamente envolvido no planeamento dos ataques de 11 de Setembro. Durante décadas foi responsável por orquestrar ataques contra cidadãos norte-americanos. Agora, foi feita justiça e este líder terrorista já não existe". Foi assim que Joe Biden, presidente dos EUA, informou, esta segunda-feira, o Mundo que Ayman al-Zawahiri foi morto num ataque de drone após ser encontrado pelos serviços norte-americanos numa casa no centro de Cabul, no Afeganistão. Mas quem é o terrorista que assumiu a liderança da Al-Qaeda em 2011?
Frequentemente fotografado ao lado de Osama Bin Laden, Ayman al-Zawahiri era tido como o número dois da Al-Qaeda. Mereceu a admiração do líder radical por ter lutado como um revolucionário clandestino sem proteção saudita durante a juventude, destacando-se por ter trazido novas capacidades táticas para o seio da organização.
Quando Bin Laden foi morto, em maio de 2011, chegou o momento do "braço direito" ser elevado à liderança da organização, mas os últimos anos foram passados de forma discreta. Embora fosse um dos terroristas mais procurados do Mundo - sobretudo depois de engendrar o ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, nos Estados Unidos - Zawahiri conseguiu ser dado como morto em 2020, tendo reaparecido no ano passado.
De médico a terrorista
Nascido em 1951, no Cairo, no Egito, Ayman al-Zawahiri cresceu no seio de uma família de classe alta. Desde os primeiros anos de vida que teve contacto direto com a medicina, mas foi também desde cedo que se começou a familiarizar com as obras radicais de Sayyid Qutb - o islâmico egípcio que defendia que os regimes árabes eram "infiéis" e deveriam ser substituídos pelo domínio islâmico.
Foi na década de 1970, quando se formou em medicina, que começou a integrar círculos militantes, acabando por fundar o grupo Jihad Islâmica Egípcia. Dez anos mais tarde, e já um médico experiente, foi convidado a viajar para o Afeganistão para prestar cuidados de saúde aos islamitas que combatiam as forças soviéticas.
No entanto, em 1981, após o assassínio do presidente egípcio Anwar Sadat por militantes da Jihad Islâmica, realizado por uma célula diferente do grupo que fundou, o médico também foi apontado como um dos culpados, sendo detido em conjunto com centenas de outros militantes, cumprindo três anos de prisão. Durante o tempo em que esteve preso, Zawahiri terá sido torturado, o que, segundo várias pessoas com quem conviveu posteriormente, o terá levado a adotar uma vertente mais radical.
Depois de ser libertado, em 1984, Zawahiri voltou ao Afeganistão e aproximou-se de Bin Laden, passando a ser seu médico, acabando por segui-lo até ao Sudão. Cada vez mais integrado no seio da Al-Qaeda, Zawahiri trouxe para a organização as táticas que aperfeiçoou na Jihad Islâmica. Promoveu atentados suicidas, que mais tarde se tornaram a marca registada da Al Qaeda, incluindo os devastadores ataques de 1998 contra as embaixadas dos EUA no Quénia e na Tanzânia, que mataram mais de 200 pessoas.
Das palavras aos atos
Em 1996, o Sudão expulsou os dois terroristas, que de regresso ao Afeganistão encontraram um refúgio seguro sob a alçada do regime Talibã. Ao fim de dois anos de exílio no pais, o vínculo entre os dois foi selado com a emissão da declaração da Frente Islâmica Mundial para a Jihad Contra dos Judeus e os Cruzados, que anunciava que os EUA eram o principal inimigo do Islão, instruindo os muçulmanos que era um dever religioso "matar os americanos e seus aliados", indicava o manifesto.
Três anos depois, Zawahiri e Bin Laden passaram das palavras aos atos e avançaram com um dos maiores ataques terroristas da História, que aconteceu em solo norte-americano a 11 de Setembro de 2001. Nos anos seguintes, o atentando, que vitimou mais de três mil pessoas, inspirou ataques em todo o Médio Oriente, norte de África, Ásia e Europa - incluindo os bombardeamentos na estação da Atocha, em 2004, em Madrid, e os atentados do metro de Londres, em 2005.
Um ano após os soldados norte-americanos abandonarem o Afeganistão, os serviços secretos cumpriram a promessa de que se iriam manter atentos e ativos contra as forças terroristas e eliminaram o homem que liderou a Al-Qaeda num contexto de declínio, já que, nos últimos anos, o grupo tornou-se irrelevante na região devido ao surgimento de novos movimentos, como o Estado Islâmico.
Apesar da organização terrorista ter cada vez menos membros, é possível que Ayman al-Zawahiri seja substituído por outro egípcio. Saif al-Adl é um dos candidatos a ser temido pelo Ocidente, dado o seu estatuto venerado dentro da organização, pela sua experiência e carisma em atrair de volta desertores.