Separatistas anunciam dissolução do Governo a 1 de janeiro. ONU pede respeito pelos direitos de ex-líder separatista.
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Depois de mais de 32 anos desde a declaração de independência não reconhecida, as autoridades do enclave do Nagorno-Karabakh, também conhecido como Artsakh, anunciaram esta quinta-feira a dissolução do Governo, em janeiro. A notícia surge após a operação “antiterrorista” feita pelo Azerbaijão, na semana passada, e durante um massivo êxodo das populações arménias étnicas pelo corredor de Lachin – os números ultrapassam os 70 mil, segundo o Executivo da Arménia.
No decreto divulgado esta quarta-feira pelo Governo da região separatista, reproduzido pela agência France-Presse (AFP), foi anunciado a dissolução de “todas as instituições de Estado e as organizações subordinadas até 1 de janeiro de 2024”. “A República de Nagorno-Karabakh deixará de existir”, completou.
“A análise da situação mostra que, nos próximos dias, não haverá mais arménios em Nagorno-Karabakh”, denunciou o primeiro-ministro da Arménia, citado pela AFP. Erevan, que anunciou um pacote de ajuda aos refugiados no valor de 24 milhões de euros, acusa Baku de promover uma “limpeza étnica”.
O Azerbaijão alega que fará uma reintegração pacífica, com o ministro dos Negócios Estrangeiros azeri a pedir que os arménios façam parte da “sociedade multi-étnica” do país. O temor dos moradores de Nagorno-Karabakh motivou, pelo menos, 70.500 pessoas a deixarem o enclave, de acordo com Erevan.
A Rússia, que mantém forças de paz na região e mediou diversos acordos, não expressou as mesmas preocupações da Arménia. “É difícil dizer quem é o culpado [pelo êxodo], não há uma razão direta para tais ações”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Sobre o fim do Governo separatista, Moscovo disse que “tomou conhecimento” e que “está a monitorar de perto a situação”.
“Morte lenta e humilhante”
“Decidimos partir assim que fomos informados sobre a ocupação de Artsakh e a dissolução do Exército de Defesa de Artsakh”, relatou Shogher Sargsyan, de 23 anos, à estação Aljazeera, após ter chegado à Arménia. “Não queríamos sair de casa, mas é impossível para os arménios viverem como parte do Azerbaijão, é como concordar com uma morte lenta e humilhante”, acrescentou.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu respeito pelos direitos do ex-líder de Artsakh, Ruben Vardanian, detido preventivamente pelas autoridades azeris. A agência apelou por “um julgamento justo”. Já Erevan mostrou-se preocupada com as “detenções ilegais” de civis no posto de controlo fronteiriço.