A queda do Muro de Berlim, que separava a Alemanha de Leste da Ocidental, em 9 de novembro de 1989, com milhares de alemães a celebrar a destruição da muralha de cimento, espoletou previsões da chegada de um Mundo sem fronteiras.
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Demasiado otimistas, contudo. Trinta anos depois, muros e barreiras estão cada vez mais presentes em todo o planeta, sustentados em receios relacionados com a globalização - a imigração é o principal "inimigo" - e surgindo como agentes da promessa de segurança e recuperação de identidade nacional.
Entretanto, o traçado de 160 quilómetros do muro - que começou a ser construído em agosto de 1961, para impedir o êxodo de alemães de Leste para a República Federal da Alemanha (RFA), escapando, assim, ao regime comunista - transformou-se num local de passeios bucólicos, muito apreciado também por corredores e ciclistas. Mas o presente cenário não fará esquecer, por certo, as 327 pessoas - cifra contestada pelas associações de vítimas, que julgam que o número peca por defeito - que morreram a tentar fugir para o Ocidente.
Elisabeth Vallet, investigadora universitária canadiana, calcula que atualmente existem, a nível mundial, "40 mil quilómetros de muros", número que ganhou robustez nos "últimos 20 anos".
A maioria está no continente asiático, ao redor da Índia, China e Coreias e no Médio Oriente. Foram construídos também na Europa - Hungria e Bulgária - e nos Estados Unidos, para tentar conter a chegada de imigrantes.
"Há 30 anos, na Europa, as pessoas estavam felizes por ver que era possível derrubar fronteiras que pareciam eternas. Hoje, constroem-se muros para aliviar temores e criar divisões", aponta Nick Buxton, do Instituto Transnacional.
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"Um dos erros [em 1989] foi postular que as fronteiras, as soberanias iam desaparecer, o que não foi o caso", afirma Vallet. "Mas foi gerando uma forte reação que se apoia no populismo." Exemplos recentes vêm dos Estados Unidos, com o muro do presidente, Donald Trump, entre EUA e México, e da Itália, com uma fronteira marítima no Mediterrâneo defendida pelo líder da extrema-direita, Matteo Salvini. Brexit, "anyone"?
Ainda um parente pobre
Nas três décadas de unificação alemã, o contraste entre o leste e o oeste da Alemanha foi-se atenuando. Ainda assim, no lado oriental, mantém-se a ausência de grandes empresas, como Volkswagen, Siemens e Bayer, que empregam milhares de pessoas a oeste. Nenhuma firma do Dax, índice dos principais valores da Bolsa de Frankfurt, tem sede na antiga República Democrática Alemã (RDA).
No leste, a produtividade é menor, cerca de 82% da registada no oeste. Em agosto deste ano, o nível de desemprego era de 4,8% na antiga RFA e 6,4% no lado oriental.
Numa Alemanha globalmente envelhecida, a situação demográfica da ex-RDA continua problemática. Desde 1991, a população de leste passou de 14,6 para 12,6 milhões de habitantes, enquanto no oeste subiu de 65,3 para 69,6 milhões.
Inclusive, a maioria dos refugiados que a Alemanha vem acolhendo desde 2015 prefere ficar na antiga RFA.
Quem não se queixará do leste alemão é a extrema-direita, onde o partido Alternativa para a Alemanha consegue os melhores resultados: entre 20% e 30% dos votos, contra os 10% alcançados a oeste.
É uma outra espécie de muro.