Biden encontrará Netanyahu em Nova Iorque: não é um bom sinal para as relações EUA-Israel
Joe Biden e Benjamin Netanyahu vão reunir-se, esta quarta-feira, pela primeira vez desde que o primeiro-ministro israelita regressou ao cargo, em dezembro. Sem uma visita à Casa Branca, o encontro à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, revela um arrefecimento das relações entre EUA e Israel.
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A reunião deve ter como tópicos o programa nuclear do Irão e a normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, segundo oficiais norte-americanos, citados pela agência Reuters. No entanto, o tema mais indigesto que o presidente norte-americano deve abordar é a reforma judicial promovida pelo Executivo israelita.
Biden, que recentemente descreveu o Governo de Israel como "um dos mais extremistas" da história do país, opõe-se às mudanças apresentadas por Netanyahu e aprovadas pelo maioria de direita e extrema-direita do Parlamento israelita. A reforma permite que o Executivo exerça maior controlo sobre o sistema judiciário.
Visitante frequente da Casa Branca noutros tempos, Netanyahu ficou relegado a um encontro em Nova Iorque, no contexto da 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Caso não vá ao Salão Oval até ao fim do ano, este será a primeira vez em 54 anos que um chefe de Governo israelita não visita à residência presidencial norte-americana no primeiro ano de mandato, segundo o jornal "The Washington Post".
Ao ser questionado, em março, se o primeiro-ministro de Israel receberia um convite para a Casa Branca, Biden respondeu que "não num curto prazo". A exclusão torna-se mais evidente ainda com o facto de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter uma deslocação específica para Washington na quinta-feira. O chefe de Estado de Kiev encontra-se atualmente em Nova Iorque, onde, na terça-feira, fez um discurso na ONU.
"Reunir-se na Casa Branca simboliza relações estreitas e amizade e honra, e a negação disso mostra exatamente o oposto", afirmou à Associated Press (AP) a especialista nas relações EUA-Israel, Eytan Gilboa. "Esta não será uma reunião agradável. Será amarga", acrescentou a investigadora da Universidade Bar-Ilan, de Israel.
O ex-embaixador norte-americano em Israel, Tom Nides, citado também pela AP, argumentou que o local escolhido para o encontro salienta as diferenças nas políticas de ambos os Estados. "Isso é o que os amigos fazem. Amigos discutem entre si. Podemos articular uma visão forte contra o crescimento dos assentamentos. Podemos dizer, com toda a franqueza, que eles deveriam ter algum comprometimento acerca da reforma judicial. O que há de errado com isso?", indagou.
Palestina é entrave
A expansão israelita na Palestina também é um do fatores que incomodam a administração Biden e o Partido Democrata. No final de agosto, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano condenou as falas "racistas" e "destrutivas" do ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir. O governante, um dos mais extremistas no Gabinete de Netanyahu, disse que os próprios direitos são "muito mais importantes" que os dos "árabes".
Apesar dos democratas verem Israel como um aliado, uma percentagem maior de republicanos acredita que o país do Médio Oriente é um parceiro como valores partilhados. O Partido Republicano, cada vez mais à extrema-direita no espectro político, demonstra uma maior aproximação com o Estado israelita. Em março, o líder republicano da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, convidou Netanyahu a visitar o Capitólio.