
Destroços no local do acidente da Ethiopian Airlines
Foto: Michael Tewelde / AFP
Um júri norte-americano determinou, esta quarta-feira, que a gigante de aeronaves deve 28,45 milhões de dólares (cerca de 24,5 milhões de euros) à família de uma vítima indiana recém-casada, no primeiro julgamento civil sobre um acidente fatal com um Boeing 737 MAX.
Corpo do artigo
O caso envolve os sobreviventes de Shikha Garg, de Nova Deli, que morreu no acidente da Ethiopian Airlines em março de 2019, um dos dois acidentes fatais com o MAX que, juntos, provocaram 346 mortes.
Após cerca de duas horas de deliberação, um júri do tribunal federal de Chicago decidiu por uma indemnização que incluiu 10 milhões por danos morais e 10 milhões por danos físicos e outros danos.
"Aceitamos com satisfação o veredicto. Viemos aqui para um julgamento com júri e é absolutamente aceitável", disse o viúvo de Garg, Soumya Bhattacharya, à AFP.
A Boeing expressou o seu pesar pelos acidentes mortais.
"Lamentamos profundamente por todos aqueles que perderam entes queridos no voo 610 da Lion Air e no voo 302 da Ethiopian Airlines", disse um porta-voz da Boeing.
"Embora tenhamos resolvido a grande maioria dessas reclamações por meio de acordos, as famílias também têm o direito de procuras as suas reivindicações por meio de julgamentos por danos em tribunal, e respeitamos o direito delas de fazê-lo".
Os advogados que representavam Bhattacharya argumentaram que os herdeiros deveriam receber entre 80 milhões e 230 milhões, enquanto os advogados da Boeing propuseram 11,95 milhões.
Os processos judiciais têm origem no voo de 10 de março de 2019, que caiu seis minutos após partir de Adis Abeba com destino a Nairobi, matando todas as 157 pessoas a bordo.
O caso de Garg foi o primeiro a ir a julgamento depois de a Boeing ter chegado a dezenas de outros acordos civis em processos movidos por familiares das vítimas do acidente da Ethiopian Airlines e do acidente do Lion Air 737 MAX em 2018.
A Boeing aceitou a responsabilidade pelo acidente da Ethiopian Airlines e reconheceu a necessidade de pagar uma indemnização aos sobreviventes de Garg.
Mas o julgamento ponderou o montante, com o advogado da Boeing a contestar o testemunho de uma testemunha da acusação sobre a extensão do sofrimento de Garg antes de morrer.
Pedido de desculpa no tribunal
Durante a argumentação final, o advogado da Boeing, Dan Webb, enfatizou o remorso da empresa, voltando-se para Bhattacharya para expressar as desculpas da Boeing no tribunal.
Webb também disse ao júri que eles deveriam decidir uma questão: o valor justo e razoável da indemnização. Acrescentou que o júri não deveria basear a sua decisão na simpatia, ecoando as instruções do juiz Jorge Alonso.
"Este julgamento, por exemplo, não envolve danos que punam a Boeing, este julgamento tem apenas a ver com compensação", enfatizou Webb.
"Não há nada neste caso que puna a Boeing e, no entanto, quando me sentei aqui e ouvi o Sr. Specter pedir entre 80 e 230 milhões de dólares, isso não é uma compensação justa e razoável. Ele está a pedir para punir a Boeing".
Garg era consultora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e estava a viajar para Nairobi para uma Assembleia das Nações Unidas sobre o Ambiente.
Ela tinha-se casado três meses antes e planeava viajar com o marido, que cancelou o voo à última hora devido a uma reunião.
Na declaração final, o advogado dos requerentes, Shanin Specter, enfatizou a perda do potencial de Garg quando ela morreu. Mencionou os comentários de Bhattacharya no banco das testemunhas, quando descreveu a sua falecida esposa como uma jovem profissional "brilhante" que estudava energia renovável.
"Parte da dor de Soumya é saber que não poderá vê-la a fazer isso", afirmou Specter. "Ele não poderá partilhar isso com ela".
