O presidente do Brasil declarou que aceitará uma derrota nas urnas, negou ter ofendido juízes e afirmou não ter cometido erros na gestão da pandemia da covid-19, numa entrevista ao "Jornal Nacional" brasileiro.
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"Seja qual for [o resultado], eleições limpas devem e têm de ser respeitadas (...) Serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas", afirmou, na segunda-feira, Jair Bolsonaro, de forma relutante, ao ser questionado se vai aceitar o resultado da votação em urnas eletrónicas, adotadas no país em 1996.
O presidente brasileiro tem afirmado reiteradamente, sem apresentar provas, que o voto eletrónico é alvo de fraude. Bolsonaro, que não dá entrevistas a meios de comunicação que não apoiam as políticas adotadas pelo seu Governo, falava numa entrevista exclusiva ao principal telejornal brasileiro.
O "Jornal Nacional" tem também previsto entrevistas com o antigo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador Ciro Gomes e a senadora Simone Tebet, os três candidatos mais bem colocados nas sondagens para as presidenciais de outubro.
Questionado sobre as razões que levam os apoiantes a manifestarem publicamente o desejo de que o Brasil adote uma intervenção militar, mantendo-o no Governo, Bolsonaro minimizou estes pedidos e disse tratar-se de liberdade de expressão.
"Quando alguns [apoiantes] falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo para esse lado", afirmou.
Sobre os motivos que o levam a fazer manifestações públicas contra juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) publicamente, Bolsonaro negou ter ofendido ministros [tratamento dado aos juízes de tribunais superiores brasileiros].
"Você [o jornalista Willian Bonner] não está falando a verdade quando fala em xingar ministro, isto não existe. É uma 'fake news' da sua parte. O que eu quero é transparência nas eleições", afirmou.
Bonner lembrou que Bolsonaro chamou, no ano passado, "canalha" ao juiz do STF e atual presidente do TSE, Alexandre de Moraes, durante uma manifestação que reuniu milhares de apoiantes, em 7 de setembro, dia em que se comemora a Independência do Brasil.
Bolsonaro também negou erros cometidos na gestão da pandemia, apesar de o Brasil ser um dos países com mais mortes causadas pela covid-19 (mais de 700 mil) e esquivou-se a responder se tinha faltado compaixão por ter imitado pacientes com crises de falta de ar, numa transmissão ao vivo que faz semanalmente nas redes sociais.
"A solidariedade manifestei-a conversando com o povo nas ruas, visitando as periferias de Brasília, vendo pessoas humildes que foram obrigadas a ficar em casa sem ter um só apoio de governador ou prefeito. E nós demos auxílio emergencial imediatamente", rebateu.
Apesar de ter feito declarações públicas nas quais questionou a eficácia das vacinas contra a covid-19 e de afirmar não ter sido vacinado, o chefe de Estado brasileiro defendeu a política do Governo na pandemia, alegando ter comprado vacinas para a população.
"Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina, só não se vacinou quem não quis. Comprada por mim e em tempo bem mais rápido do que em outros países", declarou.
Bolsonaro citou que a vacinação no Brasil começou em janeiro de 2021, sem mencionar que a primeira vacina aplicada no país, a vacina CoronaVac da fabricante chinesa Sinovac, foi comprada pelo rival político e ex-governador de São Paulo João Doria, e depois incluída, apesar das suas críticas, e também a vacina da Pfizer, no Sistema Único de Saúde (SUS) para ser aplicada na população do país.
Com 32% das intenções de voto e atrás de Lula da Silva, que lidera as sondagens com 47%, segundo o instituto Datafolha, Bolsonaro procurava com esta entrevista reconquistar apoio de eleitores que votaram no atual presidente em 2018.
Mas o ambiente tenso entre o presidente e os jornalistas da TV Globo, ao longo de 40 minutos, colocaram em causa as expectativas da campanha de melhorar a imagem de Bolsonaro, que ainda poderá conquistar apoio como o início do horário eleitoral gratuito, a partir de sexta-feira.
A eleição presidencial no Brasil tem a primeira volta marcada para 2 de outubro e a segunda volta, caso seja necessária, no dia 30 do mesmo mês.
Ao todo, 12 candidatos disputam as presidenciais: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luís Felipe D'Ávila, Soraya Tronicke, Roberto Jefferson, Pablo Marçal, Eymael, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia.