O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, discursou para centenas de apoiantes que se aglomeraram em Brasília para pedir uma intervenção militar e o fim do isolamento social face à pandemia do novo coronavírus.
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"Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós temos um novo Brasil pela frente. (...) Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder", disse o chefe de Estado à multidão, que levantava faixas em defesa de uma intervenção militar, sem o uso de máscaras ou qualquer proteção contra o coronavírus.
Em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, Bolsonaro subiu para uma carrinha, no dia em que foi celebrado o "Dia do Exército", e falou para centenas de apoiantes que contrariaram as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e do próprio Ministério da Saúde brasileiro, de evitar aglomerações e consequente disseminação do vírus.
"Todos no Brasil têm de entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho a certeza, todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. E vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política", afirmou Bolsonaro, tossindo enquanto discursava, num vídeo que o próprio partilhou nas redes sociais.
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Entre as faixas que a multidão erguia, podiam ler-se frases como "intervenção militar já!", "o povo é quem manda", "Bolsonaro no poder", "fechem o Congresso" ou "fora Maia", em referência ao presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, com quem Bolsonaro se tem confrontado nas últimas semanas.
Os manifestantes pediram ainda o encerramento do Supremo Tribunal Federal e o regresso do "AI-5", o Ato Institucional nº 5, que foi decretado no Brasil, em 1968, no auge da ditadura militar, e revogou direitos fundamentais e garantias constitucionais com o 'habeas corpus', instituiu a censura prévia e também deu ao presidente o direito de cessar mandatos de parlamentares e intervir em cidades e estados do país.
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Esta foi a maior aglomeração de pessoas a contar com a presença do próprio presidente, desde o início da adoção de medidas contra a pandemia no Brasil.
Além de Brasília, ocorreram manifestações contra o isolamento social em diferentes pontos do país, como Salvador, São Paulo e Manaus, segundo a imprensa local.
Mais de duas mil mortes
O Brasil atingiu no domingo um total de 2462 mortes provocadas pela pandemia de Covid-19 e 38654 casos de infetados.
De acordo com o balanço divulgado domingo pelo Ministério da Saúde brasileiro, morreram nas últimas 24 horas mais 115 pessoas, enquanto no sábado foram registadas mais 206 vítimas.
Da mesma forma, o número de novos infetados este domingo foi de 2055, enquanto no sábado tinha sido de mais 2917.
O Estado de São Paulo continua a ser o mais afetado, tendo ultrapassado as mil mortes (1015). Segue-se o Estado do Rio de Janeiro (402), Pernanbuco (216), Ceará (186) e Amazonas (182), ainda de acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
Estados decidem isolamento
Apesar de Bolsonaro ser um forte crítico da adoção do isolamento social como medida preventiva face à pandemia de Covid-19, e de atacar vários governadores e prefeitos que decretaram esse tipo de ações, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu na quarta-feira que estados e municípios podem adotar medidas que considerem necessárias para combater o vírus, impondo uma derrota ao presidente do país.
Na decisão da maioria dos juízes do STF, os governos estaduais e municipais podem determinar temporariamente o isolamento, a quarentena, o encerramento de comércios e a restrição de circulação em portos, aeroportos e estradas.
Os magistrados concordaram ainda que o Governo federal também pode tomar medidas para conter a pandemia, mas em casos de abrangência nacional, não tendo, por isso, poder para retirar a autonomia dos estados e municípios na gestão local.