Manequim atualmente em testes na Suécia faz história na indústria automobilística ao representar corpo feminino. De acordo com um estudo recente, as mulheres têm 73% mais probabilidade do que os homens de ficarem feridas em caso de colisão frontal.
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Chama-se SET 50F e é o primeiro boneco feminino de testes de colisão do mundo, projetado para ajudar a garantir a segurança rodoviária das mulheres enquanto condutoras, que, historicamente, têm sido esquecidas neste tipo de avaliações.
A legislação exige apenas que os fabricantes de automóveis realizem testes de colisão com manequins baseados em proporções tipicamente masculinas – um modelo que remonta à década de 1970 –, embora as estatísticas mostrem que as mulheres cisgénero correm maior risco de lesões do que os homens em caso de colisão frontal. Em consequência dessa lacuna na lei, que estabelece uma prática desigual na indústria automobilística, os fabricantes têm recorrido a versões mais pequenas dos manequins existentes para representar mulheres e crianças, mas sem ter em conta as características morfológicas específicas dos corpos femininos.
A engenheira sueca Astrid Linder, do Instituto Nacional Sueco de Investigação Rodoviária e de Transporte, está a fazer história com "o primeiro boneco de teste de colisão feminino de tamanho médio do mundo". Testado na Suécia desde o fim de 2022, o protótipo feminino feito de borracha, metal e plástico está equipado com 24 sensores, mede 162 centímetros e pesa 62 quilogramas, ou seja 15 centímetros e 15 quilos a menos do que o boneco comum, que tem, por outro lado, os ombros mais largos e os quadris mais estreitos do que este recente.
"Fator que se destaca sempre é a diferença entre homens e mulheres"
Estas diferenças, aliadas a um centro de gravidade mais baixo, desempenham um papel importante na avaliação dos riscos que as pessoas com morfologia corporal feminina enfrentam num acidente de viação. “No caso de lesões não fatais que podem levar a incapacidades, as estatísticas mostram que o fator que se destaca sempre é a diferença entre homens e mulheres”, disse Linder à agência de notícias France Presse (AFP), sublinhando que “o sofrimento resultante de um acidente pode durar a vida toda" e que, por isso, "é essencial estabelecer como é que todos podem ser protegidos”.
De acordo com um estudo de 2019 da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, as mulheres têm 73% mais probabilidade do que os homens de ficarem feridas em caso de colisão frontal. E duas vezes mais probabilidades de sofrer lesões cervicais num acidente devido à morfologia dos seus pescoços e ao design dos apoios de pescoço nos carros. “Os músculos do pescoço normalmente são mais fracos na mulher. Se compararmos com um manequim masculino, esse pescoço é mais flexível e tem mais movimento”, explicou Tommy Petterson, do mesmo instituto sueco, à AFP.
Atualmente em testes de colisão num armazém em Linkoping, 200 quilómetros a sul de Estocolmo, o SET 50F, desenvolvido com subsídios da Comissão Europeia, já está a ser utilizado por alguns fabricantes de automóveis, incluindo a Volvo, na Suécia, mas não existem regulamentações internacionais que exijam que as empresas o façam. "No regulamento, diz que é preciso usar o modelo de um homem comum para todos os testes, ponto final”, lamentou Linder, que também dá aulas de engenharia automotiva, e que, no início do ano, foi homenageada no início deste ano com um prémio que celebra as contribuições das mulheres para a indústria automobilística.