O Brasil vai assumir formalmente a partir desta quinta-feira a representação diplomática da Argentina em Caracas, depois de os diplomatas argentinos em Caracas, expulsos pelo regime de Nicolás Maduro, deixarem a Venezuela.
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A informação foi confirmada à Lusa por fontes da Chancelaria argentina em Buenos Aires e celebrada em Caracas pela líder opositora, María Corina Machado.
"Agradecemos ao Governo do Brasil pela sua disposição de assumir a representação diplomática e consular da República Argentina na Venezuela e a proteção da sua sede e residência, assim como a integridade física dos nossos companheiros asilados naquela residência. Isso poderia contribuir para avançar num processo de negociação construtiva e efetiva como a que o Brasil apoiou", publicou Maria Corina Machado nas redes sociais.
A responsabilidade que o Brasil assume a pedido do Presidente argentino, Javier Milei, visa garantir os direitos de cidadãos argentinos e de firmas de capitais argentinos em território venezuelano, proteger os seis venezuelanos asilados na residência diplomática argentina e intermediar entre a Venezuela e a Argentina, que ficaram sem um canal de diálogo direto após o regime de Maduro expulsar do país os diplomatas argentinos.
A custódia do Brasil sobre os asilados políticos deverá ser provisória até que um terceiro país aceite receber esses membros da equipa de María Corina Machado refugiados na Embaixada da Argentina desde 20 de março.
Na segunda-feira (29), o regime de Maduro deu um ultimato para que todos os diplomatas argentinos abandonassem o país em 72 horas, mas não permitiu que os refugiados venezuelanos partissem juntamente com os diplomatas expulsos.
"Dada a total falta de garantias, sem proteção da liberdade ou da integridade física dos nossos requerentes de asilo, a República Argentina alerta sobre as consequências desta situação. Apelo à solidariedade de todos os países para que colaborem com os esforços diplomáticos e com a proteção dos requerentes de asilo. A Argentina solicita à comunidade internacional que se esforce pelo cumprimento das normas internacionais que regem as relações diplomáticas entre os Estados", pediu a ministra argentina das Relações Exteriores, Diana Mondino, na quarta-feira à noite num discurso numa sessão de emergência da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde a situação na Venezuela foi tratada.
Enquanto os asilados venezuelanos continuarem sem um salvo-conduto, o Brasil poderá erguer uma bandeira brasileira na Embaixada argentina, dando-lhe caráter diplomático, apesar da ausência de diplomatas argentinos.
Esta não é a primeira vez que o Brasil representa os interesses diplomáticos da Argentina. Em 1982, quando a Argentina e a Inglaterra romperam relações no contexto da Guerra das Malvinas, o Brasil assumiu a representação argentina em Londres, criando a Seção de Interesses Argentinos na Embaixada do Brasil, onde um diplomata argentino atendia os seus cidadãos.
Apesar do pedido da Argentina, o presidente Javier Milei criticou os presidentes de Brasil, Colômbia e México por não condenarem o regime de Nicolás Maduro no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) reunido nesta quarta-feira (31) em Washington.
Maduro reclamou vitória nas eleições presidenciais de domingo passado, após um escrutínio contestado pela oposição, que acusa o regime de fraude.
Por um voto, não passou na sessão da OEA uma resolução condenando a alegada fraude eleitoral, com abstenções do Brasil e Colômbia. A resolução recolheu 17 votos a favor, 11 abstenções e cinco países estiveram ausentes.
Milei acusou os presidentes Lula, Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México) de serem cúmplices de Nicolás Maduro.
"Alguns imbecis acusaram-me de ser louco por ver comunismo em todos os lados. Fica claro que esses são cúmplices, por serem ignorantes e/ou estúpidos", escreveu Milei nas redes sociais.
Diplomatas abandonam a Venezuela via Lisboa
Cinco diplomatas argentinos abandonam esta quinta-feira a Venezuela num voo da TAP rumo a Lisboa, de onde partirão no sábado para Buenos Aires, via Madrid, após o fecho da Embaixada da Argentina em Caracas determinado pelo Presidente venezuelano.
"Nicolás Maduro comunicou-nos em 29 de julho que expulsava os diplomatas argentinos, dando-nos 72 horas a partir dessa data para abandonar o território venezuelano sem considerar a redução de voos. Vamos cumprir com o prazo dessa ordem nesta quinta-feira", disse Diana Mondino.
A Lusa confirmou com os diplomatas argentinos responsáveis que os cinco e os seus parentes, num total de 14 pessoas, embarcam num voo TAP às 15.20 de Caracas para Lisboa, de onde partirão no sábado, dia 3, para Buenos Aires com escala em Madrid.
O motivo do périplo via Europa é a falta de voos e o facto de a Venezuela ter fechado o espaço aéreo para voos com origem e destino na Argentina.
Os cinco diplomatas argentinos não conseguiram embarcar com os seis asilados políticos venezuelanos que estão na embaixada da Argentina em Caracas desde 20 de março, onde se refugiaram para escapar à perseguição do regime chavista por integrarem a equipa de campanha da líder opositora María Corina Machado.
Ao longo dos últimos quatro meses, a Argentina tentou um salvo-conduto que permitisse a saída dos asilados do país. O regime de Nicolás Maduro negou todos os pedidos até hoje. Sem o salvo-conduto, os seis venezuelanos poderiam ser presos pelo regime chavista assim que pusessem o pé fora da Embaixada.
A Argentina continua a pressionar pelo salvo-conduto para levar os asilados a uma terceira representação diplomática em Caracas, possivelmente de um ou mais países europeus, já que, além da Argentina, Maduro também expulsou os diplomatas de outros seis países latino-americanos: Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai.
Na segunda-feira, o regime de Maduro deu um ultimato para que todos os diplomatas desses sete países abandonassem o país em 72 horas. Os governos desses países foram acusados de "intromissão" e de "desconhecerem os resultados eleitorais".