Ministério da Justiça, que fala em “flagrante desrespeito pelos direitos fundamentais”, exigiu que agentes de imigração norte-americanos retirassem as algemas dos 88 cidadãos assim que aterraram em Manaus.
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O Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro exige explicações da Administração norte-americana sobre o “tratamento degradante” a que foram sujeitos os 88 brasileiros num voo de deportação que aterrou em Manaus devido a uma falha técnica, e que foram depois levados, já por uma aeronave da Força Aérea Brasileira, para o destino final, Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde chegaram na noite de sábado. Os cidadãos chegaram algemados e relataram humilhações, escassez de alimentos e maus-tratos sofridos antes e durante o voo.
Foi em Manaus, capital do estado do Amazonas, que as autoridades brasileiras exigiram que os agentes de imigração norte-americanos retirassem as algemas do grupo de deportados. A Polícia Federal, agindo sob as instruções do ministro da Justiça brasileiro, Ricardo Lewandowski – que ordenou às autoridades norte-americanas que retirassem “imediatamente as algemas” quando o avião que transportava os deportados aterrou, denunciando o “flagrante desrespeito pelos direitos fundamentais” dos seus cidadãos –, foi ao encontro da aeronave depois de esta ter feito uma paragem inesperada na cidade de Manaus devido a problemas técnicos, que impediram o avião militar dos EUA de completar o trajeto entre Alexandria, no estado norte-americano da Virginia, e Minas Gerais, informou o Governo brasileiro, que explicou que as algemas só foram retiradas após a intervenção da polícia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou, na sequência do incidente, que os passageiros fossem levados a bordo de um avião da Força Aérea para o destino programado, Belo Horizonte, para que pudessem concluir a sua jornada com “dignidade e segurança”, de acordo com uma declaração do Ministério da Justiça brasileiro. Este segundo voo contou com o acompanhamento de profissionais de saúde que, segundo o jornal “Folha de São Paulo”, garantiram o bem-estar dos passageiros.
"Quase 50 horas acorrentado"
Bem diferente foi o primeiro voo e o período que o antecedeu, ainda nos EUA, com vários deportados a relatarem agressões e ameaças. Alguns dos migrantes ouvidos pela “Folha de São Paulo” dizem ter ficado 50 horas algemados, sem ar condicionado no voo e sujeitos a abusos. “Nem cachorro merecia ser tratado daquele jeito. Passei quase 50 horas acorrentado, sem comer direito. Estou há cinco dias sem tomar banho”, descreveu Jefferson Maia, que ficou dois meses detido nos EUA após atravessar a fronteira com o México.
Vários deportados relatam ao mesmo jornal que só conseguiram alertar as autoridades brasileiras depois de se abrir uma das portas de emergência do avião, já em Manaus, e gritarem por socorro. Tendo funcionários do aeroporto que estavam na pista alertado a Polícia Federal. “A gente disse pra eles: chama a nossa polícia, tira a gente daqui”, contou Denilson de Oliveira. “Senti muito medo. Parecia que estavam tentando nos matar”.
“Bateram em nós, falaram que iam derrubar o avião, que o nosso Governo não era nada”, relatou Carlos de Jesus. Para Aeliton Cândido, tudo o que importa é virar a página: “Agora é vida nova, respirar e recuperar a minha dignidade. Foi a pior coisa que já passei na minha vida. Medo de morrer”.