Brasil vai publicar na Internet primeira Constituição traduzida para língua indígena
A Biblioteca Nacional do Brasil anunciou, esta sexta-feira, que publicará no seu site uma versão digital da primeira Constituição brasileira traduzida para uma língua indígena, para facilitar o acesso ao documento histórico.
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O anúncio foi feito pelo presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, num evento no Rio de Janeiro onde recebeu da presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, uma cópia da Constituição traduzida para a língua Nheengatu, a fim de incorporá-la ao acervo do centro.
"O papel da Biblioteca Nacional é receber essa doação para que ela seja incorporada ao acervo, pois estamos ampliando nossas estantes étnicas. Temos muito material sobre as diferentes línguas, mas precisamos de o ampliar. É um trabalho que nunca termina", disse o membro da Academia Brasileira de Letras.
A tradução foi iniciativa da própria presidente do Supremo Tribunal Federal porque, 35 anos depois da sua promulgação, o Brasil, um país com 1,7 milhões de indígenas de 305 etnias e falantes de 274 línguas, não tinha uma edição da sua Constituição em nenhuma língua indígena.
O resultado final do projeto foi apresentado em julho, durante uma visita que Weber e Lucchesi fizeram a São Gabriel da Cachoeira, o município com a maior população indígena do Brasil, situado no coração da Amazónia e que faz fronteira com a Colômbia e a Venezuela.
A tradução foi feita por 15 indígenas bilingues do Alto Rio Negro e do Médio Tapajós, e a língua escolhida foi o Nheengatu, de onde se originou o Tupi, devido à sua importância na região amazónica.
Foi essa língua, que deu origem a várias outras, que possibilitou a comunicação entre comunidades de diferentes povos espalhadas pela Amazónia, até mesmo além das fronteiras com Peru, Colômbia e Venezuela.
A Constituição de 1988 foi precisamente a que garantiu aos povos indígenas do Brasil o direito às terras que ocupavam, que correspondem a cerca de 13% do território.