Um ano depois, pós-Brexit tem deixado pesadas marcas económicas. Maioria dos objetivos comerciais ainda estão a ser negociados, mas já houve acordo nas pescas.
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Um ano após a assinatura do Acordo de Comércio e Cooperação, que tem como objetivo enquadrar as relações entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido, há muitas questões por estabilizar.
O Brexit, refere a" Bloomberg", tem sido um obstáculo ao crescimento económico do Reino Unido, uma vez que com a saída do país da UE, o comércio entre ambas as partes acabou por sair prejudicado. "Este acordo acaba por ser o quadro para a construção de um novo relacionamento que demorará o seu tempo", explica Pedro Froufe, professor de Direito da Universidade do Minho, que não se mostra surpreendido com os efeitos pós- Brexit, acrescentando que as consequências desta saída têm sido camufladas pela pandemia de covid-19.
No que diz respeito às trocas comerciais, Pedro Froufe recorda que a situação tem sido difícil e assim deverá continuar. "A questão do abastecimento foi dramática e levou a uma situação, que se não fosse a pandemia, teria consequências internas grandiosas".
Problemas comerciais
Em setembro, o jornal "The Guardian" dava conta de supermercados com prateleiras vazias, o que também foi uma consequência da crise dos combustíveis que afetou o país. Embora muitos tenham culpado o Brexit pela falha na circulação de bens, Downing Street afirmou que se tratava de uma "escassez temporária relacionada com a covid". Na opinião de Pedro Froufe, esta abordagem terá sido mais uma forma "de o Governo de Boris Johnson provar que o país ficou a ganhar com a saída da UE", mesmo que muitas vezes o faça de "forma infantil".
O investigador destaca que há alguns alertas vermelhos de que algo não corre bem na perspetiva inglesa, já que a substituição da livre circulação de mercadorias não está a funcionar como seria suposto.
Há ainda outras questões que ainda estão por resolver. Esta semana, Londres disse que queria "acelerar o ritmo das negociações" com a UE para resolver os problemas relacionados com o Brexit na Irlanda do Norte, mas sem alterar as suas exigências negociais. Depois de David Frost sair de cena, Liz Truss assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros e tem-se mostrado confiante. Segundo o "Politico", a governante pode ser um trunfo neste processo. Por sua vez, a UE espera que a nova ministra possa apresentar uma maior facilidade nas negociações.
Embora o processo de adaptação à saída da comunidade não seja fácil, na quarta-feira, "um novo passo foi dado", destaca o professor, já que a UE aprovou o acordo entre o bloco e o Reino Unido sobre oportunidades de pesca para 2022. O acordo permite que a frota da UE continue a pescar em águas do Atlântico e do Mar do Norte.
Saber mais
Acordo Comercial
O Acordo Comercial foi assinado no dia 24 de dezembro de 2020, mas só entrou em vigor no dia 1 de maio do mesmo ano, após ser aprovado pela União Europeia.
Baixa no Governo
David Trust abandonou o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros no passado fim de semana, devido à "desilusão" com a "direção" da política governamental. O governante foi substituído por Liz Truss.
Migração ilegal
Diariamente, milhares de migrantes tentam atravessar o Canal da Mancha para chegar ao Reino Unido. A postura adotada pelo Governo britânico tem sido devastadora aos olhos da opinião pública, refere Pedro Froufe.
Ameaças de Paris
Apesar da UE e o Reino Unido terem chegado a um acordo sobre as pescas, Londres corre o risco de vir a conhecer "restrições ao mercado único" se não o respeitar, alertou o secretário de Estado francês dos Assuntos Europeus.
Finanças
Os Estados Unidos ultrapassaram a União Europeia como principal destino das exportações de serviços financeiros de Londres, após uma queda nos negócios com o bloco comunitário durante 2020, revelou a organização TheCityUK no início deste mês
Dados
200 mil
cidadãos europeus deixaram o país, arrastados por leis migratórias mais rígidas. Este fluxo fez com Londres ficasse com uma crise de escassez de pessoal.
Dificuldades para emigração lusa
Em 2020 saíram de Portugal apenas 45 mil cidadãos, cerca de metade do que se verificou em 2019. A pandemia e as restrições com o Brexit estão na origem dos dados do relatório da emigração portuguesa em 2020. Muitos destes emigrantes estão agora a regressar a Portugal para passar o Natal.