Cerca de 200 mil pessoas participaram este sábado em histórica manifestação do Orgulho na capital húngara, apesar de Governo do primeiro-ministro Viktor Orbán ameaçar com “consequências legais".
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Mesmo com a proibição da Polícia e com a pressão do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a 30.ª marcha do orgulho LGBT aconteceu em Budapeste e reuniu cerca de 200 mil pessoas, segundo os organizadores. Sob o lema “a liberdade e o amor não podem ser proibidos”, manifestantes pintaram as ruas da capital com o arco-íris, tendo a consciência de que estão a representar a linha de frente numa escalada autoritária que o país enfrenta.
A expectativa era de que 35 mil pessoas comparecessem à marcha, mas a chefe da organização calculou que havia 180 a 200 mil participantes. “É difícil estimar porque nunca houve tantas pessoas”, disse Viktoria Radvanyi à Agência France-Presse (AFP).
“Tenho orgulho de ser gay... e tenho muito medo de que o Governo queira nos derrubar”, lamentou Zoltan, manifestante de 66 anos que não quis revelar o apelido, citado pela AFP. “Estou muito surpreso com a quantidade de pessoas presentes, tenho vontade de chorar”, acrescentou.
Num cartaz, a mensagem era clara: “Nenhum de nós é livre até que todos sejam livres”. “Isto é sobre muito mais, não apenas sobre a homossexualidade... Este é o último momento para defendermos os nossos direitos”, afirmou o participante Eszter Rein Bodi à agência britânica Reuters.
Alegando uma suposta “proteção das crianças”, a coligação encabeçada pelo Fidesz, partido de Orbán, aprovou leis ao longo da última década que resultaram na diminuição dos direitos LGBT e na proibição de marchas. Gergely Karácsony, autarca de Budapeste e opositor, tentou contornar a legislação ao organizar o ato como um evento municipal, mas a Polícia proibiu ainda assim.
Apesar de Orbán dizer, na véspera, que as forças de segurança não interviriam, o conservador alertou que haverá “consequências legais”. Os organizadores correm o risco de enfrentarem um ano de prisão e os participantes poderão ser multados em até 500 euros. Mudanças legislativas deram também mais poderes às autoridades para o uso de tecnologias de reconhecimento facial – e várias câmaras foram instaladas ao longo da rota da marcha.
“Grande constrangimento”
Para o analista do centro de investigação húngaro Iránytu Institute, Szabolcs Pék, ouvido pela AFP, o elevado nível de comparecimento dificulta uma resposta do Executivo de Orbán. “Isto é um grande constrangimento para o Fidesz”, pontuou. Com legislativas previstas para 2026, o episódio deste domingo pode ser mais capítulo numa eventual derrocada do chefe de Governo, cujo partido tem aparecido em segundo lugar nas sondagens.
Nos últimos dias, 33 países, incluindo a maioria dos estados-membros da União Europeia, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, demonstraram apoio à realização do evento. Eurodeputados participaram na marcha e organizações não governamentais defenderam-na. “Como demonstrou a onda de solidariedade de todo o Mundo, o Mundo está a ver”, frisou Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional.
“O direito de reunião é um direito humano básico e não acho que deva ser proibido. Só porque alguém não gosta do motivo pelo qual vai à rua, ou não concorda com isso, ainda tem o direito de fazê-lo”, salientou a Reuters a participante Krisztina Aranyi.