Ex-presidente foi acusado de quatro crimes pela comissão de inquérito do Congresso, mas republicanos defendem que conclusões são "golpe" para abalar recandidatura à Casa Branca.
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"Golpe político", acusações falsas" ou "caça às bruxas" foram algumas das expressões usadas pelos republicanos para criticar as conclusões apresentadas na segunda-feira pela comissão de inquérito do Congresso norte-americano, que acusa Donald Trump de quatro crimes, entre eles o incitamento à insurreição, por, alegadamente, ter incitado o ataque ao Capitólio. Uma decisão judicial sobre o magnata está agora nas mãos do Departamento de Justiça, no entanto, o ex-presidente dos EUA garante as imputações se tratam de uma encenação para o impedir de voltar a recandidatar-se. "Sabem que vou ganhar", escreveu na rede Truth Social.
Numa altura em que promotores federais estão a investigar não só os esforços de Donald Trump para frustrar os resultados do escrutínio de 2020, mas também o uso indevido de documentos confidenciais que o ex-presidente terá roubado quando deixou a Casa Branca, tudo indicava que o republicano ficasse numa posição de maior fragilidade política, porém, a habitual base de apoio que o acompanha mantém-se ativa na defesa do conservador e dá-lhe fôlego para 2024.
"É apenas mais um golpe partidário e político", assinala Russell Dye, porta-voz de Jim Jordan, um aliado de Trump no Ohio, ao "The Guardian", acrescentando que a comissão "falhou em responder às preocupações do republicano em torno da politização e legitimação do trabalho" que estava a ser realizado. Já o congressista Troy Nehls classificou a investigação do painel - que conta com nove membros, entre eles sete democratas e dois republicanos - como uma "caça às bruxas partidária", assinalando ainda que "o povo americano está cansado de mentiras".
Também o filho mais velho do antecessor de Joe Biden, Donald Trump Junior, se pronunciou em defesa do pai. Numa publicação no Twitter, o herdeiro do magnata escreveu que a comissão está a alimentar "falsas acusações" sobre o dia 6 de janeiro de 2021, chamando a atenção para os Twitter Files - mails que revelam o processo de deliberação interna da rede social, agora liderada por Elon Musk, que levou à decisão de censurar um artigo do jornal norte-americano "The New York Post", tal como tweets que partilhavam conteúdo do computador pessoal de Hunter Biden, filho do atual presidente, na altura ainda candidato à Casa Branca -, alertando que há "evidências reais de um esforço para interferir numa eleição democrática".
"É muito hábil em se auto-vitimizar"
Poucas horas após serem reveladas as conclusões das mais de 150 páginas do relatório, o acusado usou a rede social que criou para se defender, apesar das provas apresentadas pela comissão. "Esta gente não percebe que, quando vêm atrás de mim, as pessoas que amam a liberdade defendem-me", frisou, assegurando: "Isto fortalece-me".
Para Diana Soller, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), a reação do ex-presidente era esperada e segue a abordagem "habitual" de Trump, que passa "por desculpabilizar o próprio e acusar o outro". A especialista acredita que as recentes acusações não vão diminuir a posição política de Trump - o que se comprova pelo apoio imediato que recebeu após ser acusado de quatro crimes - já que o republicano "é muito hábil a usar este tipo de situações para se auto-vitimizar", assinalou ao JN.
Apesar do apoio de uma grande fação dos "vermelhos", aos poucos o milionário norte-americano também vai semeando a discórdia, o que pode colocar em causa o caminho - que inclui a passagem por umas eleições primárias - que terá de traçar até poder voltar a ser o "dono" da Casa Branca.
"Nenhum homem que se comporta desta forma poderá ocupar qualquer posição de autoridade no nosso país", realçou a republicana Liz Cheney, que atuou como vice-presidente na comissão de inquérito, referindo-se à relutância de Trump em intervir para que os manifestantes não invadissem o edifício do Capitólio.
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Nos últimos 18 meses, a comissão entrevistou mais de mil testemunhas, analisou mais de um milhão de documentos, emitiu mais de 100 intimações e realizou audiências que atraíram milhões de telespetadores.
O painel da comissão nomeou ainda cinco outros aliados de Trump - Mark Meadows, o seu último chefe de gabinete, e os advogados Rudolph W. Giuliani, John Eastman, Jeffrey Clark e Kenneth Chesebro - como potenciais co-conspiradores no ataque ao Capitólio.