Cães, gatos e agora gansos. O candidato republicano na corrida à Casa Branca, Donald Trump, adicionou uma nova vítima às suas declarações de que migrantes haitianos estão a roubar e a comer animais de estimação em Springfield, no Ohio.
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Na terça-feira, durante o debate com a candidata democrata Kamala Harris, Trump repetiu as alegações feitas em círculos republicanos de que imigrantes ilegais estão a "comer animais de estimação" de cidadãos norte-americanos. "Em Springfield, eles estão a comer cães. As pessoas que chegam estão a comer os gatos. Eles estão a comer os animais de estimação das pessoas que vivem lá", acusou o ex-chefe de Estado, antes de ser recordado pelo moderador do debate de que essas alegações foram oficialmente desmentidas.
Ainda assim, na quinta-feira, durante um comício em Tucson, no Arizona, o candidato republicano continuou a acusar os migrantes de roubar animais de estimação. Desta feita, gansos. “Uma gravação de chamadas para o 911 [número de emergência nos EUA] mostra que os residentes estão a relatar que os migrantes estão a levar os gansos da cidade", disse Trump.
Springfield, uma cidade no sudoeste do Ohio, tem cerca de 60 mil habitantes e viu chegar milhares de imigrantes nos últimos anos. Muitos são haitianos e, segundo as autoridades municipais, cerca de 20 mil fizeram de Springfield a sua casa nos últimos anos. No entanto, as alegações foram rejeitadas pelas autoridades locais, com a polícia de Springfield a dizer que não há provas credíveis que as sustentem.
Já a Casa Branca denunciou uma "teoria da conspiração com raízes racistas". "Este tipo de declarações, este tipo de desinformação é perigosa porque algumas pessoas vão acreditar nisso, por mais absurdo e estúpido que seja, e poderiam reagir de uma forma que poderia causar feridos", disse, na terça-feira, John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
"É a propagação da imundície, o que põe vidas em perigo" nas "comunidades que estão a ser difamadas", afirmou, por sua vez, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre na quinta-feira.
Também o governo do Haiti condenou, na quarta-feira, os "comentários discriminatórios" feitos por Trump e outros republicanos. “Infelizmente, esta não é a primeira vez que os compatriotas no estrangeiro são vítimas de campanhas de desinformação, são estigmatizados e desumanizados para servir interesses políticos eleitorais”, afirmou o governo. “Rejeitamos firmemente estas observações, que minam a dignidade dos nossos compatriotas e podem pôr em perigo as suas vidas”.
Ameaça de bomba em Springfield
Depois de uma semana em que foi palco de polémica, as autoridades de Springfield ordenaram a evacuação do edifício da câmara municipal devido a uma ameaça de bomba. "Devido a uma ameaça de bomba enviada hoje a vários organismos em Springfield, a Autarquia está fechada", lê-se na conta oficial da cidade no Facebook.
As acusações contra os haitianos em Springfield parecem ter surgido, inicialmente, de uma simples publicação no Facebook, supostamente de um morador da cidade, que citou a amiga da filha de outro morador, segundo a qual os seus vizinhos, que seriam haitianos, tentaram comer o seu gato.
Memes invadem a internet
Na continuação do seu discurso, Trump publicou, na quinta-feira, na sua rede social Truth Social, fotografias digitalmente adulteradas que retratam gatos a apoiar ou a ser resgatados por Trump. "Ohio está inundado de migrantes sem documentos, a maioria deles procedente do Haiti, que tomam conta de cidades e povoados num ritmo nunca visto", voltou a escrever o candidato republicano.
O proprietário do X, Elon Musk, também utilizou a sua rede social para divulgar as alegações. "Aparentemente, os gatos de estimação das pessoas estão a ser comidos", escreveu Musk.
Donald Trump passou grande parte da campanha a alertar para o fluxo de migrantes e para as ameaças que diz que a imigração representa para o país. Trump tem dito também que ganhou as eleições presidenciais de 2016 por causa da sua mensagem sobre a fronteira com o México.