O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, disse, esta quarta-feira, que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, está a entrar num "jogo perigoso" por razões internas ao anunciar um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia.
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"Suspeito que o primeiro-ministro Cameron, com o seu anúncio de referendo, está a entrar num perigoso jogo por razões táticas, domésticas", disse Martin Schulz, num comunicado.
O presidente do Parlamento Europeu (PE) salientou ainda que "este foi um discurso voltado para dentro, que não reflete a realidade europeia e não irá impressionar muitos dos parceiros europeus do Reino Unido".
"O discurso foi mais sobre a política interna refletindo preocupações dos elementos eurocéticos do Partido Conservador (britânico)", disse também.
Anúncio "surpreendente"
O presidente do principal grupo político no Parlamento Europeu (PE), Joseph Daul, disse, por seu lado, que é "surpreendente que, depois de 40 anos de parceria e tomada de decisões em conjunto, um dos nossos Estados-membros descubra que é infeliz e queira renegociar os termos para um futuro em comum".
"É ainda mais surpreendente o facto de ser um primeiro-ministro conservador quem está a tentar apagar os contributos dos seus predecessores: primeiros-ministros conservadores como Winston Churchill, Harold Macmillan, Edward Heath, Margaret Thatcher, e John Major, que ajudaram a construir a União Europeia de hoje".
Joseph Daul adiantou recusar-se a renegociar os princípios fundamentais que trouxeram à Europa "paz e prosperidade" e que o Reino Unido aceitou durante 40 anos.
"A brincar com o fogo"
Por seu lado, o líder dos Socialistas e Democratas (S&D) no PE, Hannes Swoboda, considerou que "o discurso tragicómico" do líder britânico "caiu muito abaixo de qualquer expectativa, de direita ou de esquerda, britânicas ou continentais".
David Cameron, considerou, "deveria ter passado mais tempo a analisar os benefícios que a UE traz ao Reino Unido" em vez de procurar argumentos para o seu discurso.
Na mesma linha, o líder do grupo liberal (Alde), Guy Verhofstadt, salientou que o primeiro-ministro britânico "está a brincar com o fogo" ao pretender renegociar os termos das relações com a UE. "Ele não pode controlar nem o momento nem o resultado das negociações, pelo que está a levantar falsas expectativas que nunca serão cumpridas".
O discurso satisfez o líder do grupo eurocético Europa da Liberdade e da Democracia, Nigel Farage, que salientou ser o "principal sucesso" de Cameron. "O génio saiu da garrafa", acrescentou, referindo que o debate sobre uma saída da UE deixou de ser marginal.
O primeiro-ministro britânico prometeu realizar, até 2017, um referendo sobre a permanência ou não do seu país na União Europeia e alertou que, sem uma reforma da união, o Reino Unido corre o risco de sair.