O fenómeno é novo e apanhou o Reino Unido de surpresa: multiplicaram-se as travessias desde França, consideradas muito perigosas.
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A atenção do Mundo só despertou no dia de Natal: 40 pessoas em cinco botes de borracha eram intercetados pela guarda costeira britânica na Mancha, quantidade nunca vista. Eram iraquianos, afegãos, iranianos e revelavam que o tráfico organizado de migrantes se instalou no Canal onde, até agora, as tentativas de travessia eram muito ocasionais - 13 em 2017, garantem as autoridades marítimas francesas. Ora, desde o dia 25 de dezembro, somam-se já perto de 100 resgatados.
A constatação de se estar perante "um incidente de amplitude" fez o ministro do Interior britânico, Sajid Javid, encurtar as férias de Natal e conferenciar com o homólogo francês. Em causa estão barcos que partem de França e sujeitam os ocupantes a uma travessia "incrivelmente perigosa", alerta a líder do Comité de Assuntos Internos do Parlamento britânico, Yvette Cooper.
Porquê? Porque aqueles curtos 50 quilómetros de Mancha são uma autoestrada marítima de águas muito frias, usada por cerca de 500 navios por dia, sem contar os ferries que ligam Calais e Dunkerque, em França, a Dover, na Inglaterra. Um festival de correntes. É como "atravessar a circular (de uma cidade) a pé em hora de ponta", exemplifica a Polícia.
Troca de acusações
"Tudo indica que gangues criminosos organizados estão por detrás destas tentativas de imigração ilegal", uma realidade nova, segundo o Ministério do Interior britânico. Que acusa veladamente a França de ser responsável.
Diz uma funcionária dos serviços de imigração britânico, citada pelo jornal francês "Le Monde", que "os traficantes atuam muito às claras, estão nos acampamentos e nos cafés do norte de França". Lucy Moreton aponta uma reportagem recente da BBC, em que um jornalista se fez passar por migrante em Calais e foi aliciado para a travessia por um passador iraniano por 3300 euros. "Se é evidente para os jornalistas e os locais, deveria sê-lo também para as autoridades francesas". Do lado francês, Ingrid Parrot, diretora da Prefeitura Marítima da Mancha, nega qualquer laxismo, aponta o aumento das patrulhas e garante que se está perante o simples aumento das tentativas de travessia.
Acordado reforço de cooperação
Os ministros do Interior britânico e francês, Sajid Javid e Christophe Castaner, acordaram, em conversa telefónica, reforçar a cooperação na gestão desta nova crise migratória. A gestão da imigração entre França e o Reino Unido imputa a França a obrigação de reter no seu território os migrantes que almejam o Reino Unido, em troca de financiamento britânico para lidar com a questão. E torna o porto de Calais e o Túnel da mancha estanque, o que poderá estar a estimular a travessia em botes.