Candidato presidencial derrotado nas Honduras denuncia "fraude" e rejeita resultado

"Não aceito a declaração emitida hoje, 24 de dezembro, pelo Conselho Eleitoral, porque não reflete a verdade completa do voto dos cidadãos", afirmou Salvador Nasralla
Foto: Gustavo Amador/EPA
O candidato presidencial pelo Partido Liberal de Honduras, Salvador Nasralla, rejeitou esta quarta-feira a declaração do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que atribuiu a vitória a Nasry Asfura nas eleições de 30 de novembro.
"Falo como uma pessoa que acredita na democracia, que acredita na lei. Acima de tudo, que acredita na dignidade do voto de cada um de nós. Não aceito a declaração emitida hoje, 24 de dezembro, pelo Conselho Eleitoral, porque não reflete a verdade completa do voto dos cidadãos", afirmou numa aparição na sede do partido, entre os gritos de apoiantes, que ecoaram um "não à fraude".
A candidata do partido no poder Partido Liberdade e Refundação (Libre, esquerda), Rixi Moncada, também não aceitou o resultado do escrutínio das eleições realizadas há quase um mês, alegando também a existência de "fraude eleitoral".
O conservador hondurenho e líder do Partido Nacional das Honduras, Nasry "Tito" Asfura, conhecido no país como "Papá ao vosso serviço", foi declarado esta quarta-feira, com 40,26% dos votos escrutinados, vencedor virtual das eleições presidenciais de 30 de novembro.
O escrutínio foi marcado por denúncias de "fraude" desde antes das votações, ameaças contra as duas conselheiras eleitorais junto do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) pelos partidos considerados vencedores, e a alega "ingerência" do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a favor de Asfura.
Asfura derrotou por pequena margem o também conservador Salvador Nasralla, que obteve 39,54% dos votos, quando estavam escrutinados 99,93% dos boletins de voto, segundo o 'site' do CNE. À candidata do Libre foram atribuídos 705.428 votos, ou 19,19% dos boletins escrutinados.
Nasralla defendeu que a rejeição dos resultados "não é um capricho, não é uma reação emocional» e condenou o facto de ter sido dado um resultado final "sem contar todos os votos", tendo em conta que, segundo o próprio CNE reconheceu, 1,63% das atas apresentam "inconsistências".
"Isto vai pesar-lhes toda a vida. A democracia não se encerra por cansaço nem porque hoje é 24 [de dezembro]", afirmou, antes de reiterar que não vai aceitar um resultado "construído sobre omissões". Fazer isso, acrescentou, "seria trair a confiança" dos eleitores.
O candidato do Partido Liberal garantiu que não tem "medo de dizer a verdade e exigir que o processo eleitoral seja honrado com integridade e de acordo com a lei" e lembrou que esta "reconhece o direito dos partidos políticos de pedir revisão quando existem razões contundentes" para duvidar do processo.
"Quem decidiu quais votos valiam e quais não valiam?", questionou.
"Se os votos não forem contados, continuarei a repetir (...) que este [ato eleitoral], tal como o de 2017, foi uma fraude que me foi cometida pelo crime organizado", afirmou, ao mesmo tempo que acusou o Partido Nacional de governar "em conjunto" com um dos grupos criminosos.
"Não será Asfura quem vai governar Honduras, [mas] o crime organizado liderado por [o ex-presidente hondurenho, perdoado pelos Estados Unidos] Juan Orlando Hernández", acusou.
Por outro lado, Nasralla denunciou que "o que está a acontecer hoje nas Honduras é igual ao que os líderes de esquerda conseguiram na Venezuela, impondo à força Nicolás Maduro", e lamentou que "seja tolerada uma recontagem limitada com o aval do Presidente dos Estados Unidos [Donald Trump], que foi mal informado".
O político conservador descartou, finalmente, o apelo à mobilização, alegando que o país centro-americano já "sofreu" com a imposição da política "pela força e não pela razão".
"Não apelo à desordem nem à violência, apelo a algo mais forte, à consciência, ao respeito e à defesa pacífica do voto, e anuncio que defenderei o voto por meios legais, cívicos e pacíficos até que a verdade seja totalmente conhecida", prometeu.
