Presidente da comunidade ucraniana em Portugal lamenta que Putin queira ter o papel de "decidir" quem vive e quem morre. Mas garante: "a Ucrânia está preparada para se defender".
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Medo e, sobretudo, cansaço. Depois do discurso desta segunda-feira à noite de Vladimir Putin, "já ninguém dormiu". A comunidade ucraniana residente em Portugal está preocupada com as ameaças deixadas pelo presidente russo, que reconheceu a independência das duas regiões separatistas do Leste da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, ordenando o envio de tropas "para a manutenção da paz".
Mais do que nunca, diz Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, é preciso "uma resposta firme do mundo democrático" à posição de Putin. Só assim, acredita, será possível evitar o conflito que resultará numa tragédia humana. "Os ucranianos estão fartos de tantas ameaças", começou por explicar, lamentando que o clima de tensão dure já há oito anos. Por outro lado, há medo, tanto de quem lá vive como de quem, por cá, pensa no dia a dia dos familiares, altamente marcado pela incerteza.
"Ainda esta manhã vi uma publicação nas redes sociais de uma senhora [ucraniana] com fotografias do céu e do mar e a dizer, no fundo, que não sabe até quando vai conseguir vê-los", contou Pavlo Sadokha, descrevendo, assim, o estado de espírito da comunidade. Ainda assim, o responsável garante que a Ucrânia "está pronta para se defender", lamentando que, em pleno século XXI, haja um líder "fascista com o poder de decidir se vai ou não matar pessoas e agredir países".
Ouvido pelo JN, Pavlo Sadokha destacou ainda que, após o discurso de Putin, os meios de comunicação social russos se encheram com as suas ameaças: "se houver um tiro da Ucrânia, a Rússia vai bombardear cidades, aeroportos e estruturas militares. "Sabemos bem que, para Putin, é muito fácil 'criar' um tiro", frisou, contando que, ainda na altura da União Soviética, se recorda de ver a Rússia a invadir a Chechénia em resposta a explosões que foram consideradas um atentado terrorista. "Soube-se, depois, que não foi bem assim", afirmou.
O responsável da comunidade disse ainda estar satisfeito com a "solidariedade espetacular" dos portugueses, que se mobilizaram, de imediato, para a organização de uma nova manifestação juntamente com a comunidade ucraniana, marcada para o próximo domingo, na Praça do Comércio, em Lisboa.