Surto grave de gripe e aumento de casos de covid-19 estão a entupir os hospitais britânicos. Socorristas com pacientes à espera de atendimento médico lidam com a frustração dos pedidos de socorro acumulados sem possibilidade de resposta. Atrasos no atendimento estão a causar 500 mortes por semana.
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Em novembro, quase 38 mil pacientes esperaram mais de 12 horas para serem internados
Depois de dois anos de massacre pela elevada afluência causada pela pandemia, o National Health Service (NHS) vive, atualmente, a pior crise desde que foi criado, alertam as administrações dos hospitais britânicos. Nos últimos meses, um grave surto de gripe e o aumento de casos de covid-19 têm feito com que os profissionais da Grã-Bretanha não tenham mãos a medir. O elevado número de utentes que todos os dias chegam às urgências reflete-se nos elevados tempos de espera, o que está a causar centenas de óbitos a cada semana, desde novembro.
Cerca de 500 pessoas estão a morrer, todas as semanas, devido aos atrasos no auxílio aos doentes, informou Adrian Boyle, representante da associação britânica de médicos de emergência Royal College of Emergency Medicine. Os indicadores de dezembro, acrescenta ao "The Guardian", deverão ser os piores de sempre, com vários incidentes críticos registados durante a época festiva.
Um grave surto de gripe e o aumento de casos de covid-19 estão a pressionar a resposta do NHS, o serviço nacional de saúde britânico. "Entrámos em dezembro com o pior desempenho de todos os tempos em relação à nossa meta e com os mais altos níveis de ocupação dos hospitais", constatou o médico. Dados do NHS de novembro indicam que cerca de 37 800 pacientes esperaram mais de 12 horas para serem internados. "Se olharmos para os gráficos, todos eles estão a crescer para o lado errado. Não podemos simplesmente encolher os ombros", assinalou Boyle, que dá ainda conta do estado de exaustão dos colegas.
Na última semana de 2022, um em cada cinco doentes transportados de ambulância em Inglaterra esperou mais de uma hora até chegar às equipas hospitalares. Num dos casos mais extremos, em Swindon, no Sudoeste do país, um paciente aguardou 99 horas numa maca até que houvesse uma cama disponível no Hospital Great Western. O problema da gripe e da covid-19, notou Boyle, é que funcionam como uma bola de neve. "Os pacientes precisam de ser internados, mas também há funcionários que adoecem", evidencia.
Brexit dificultou cenário
Além disso, desde os médicos aos enfermeiros, passando pelos auxiliares e trabalhadores das ambulâncias, todos os grupos que sustentam o sistema de saúde britânico estão com falta de pessoal - um problema exacerbado pelo Brexit, que, de acordo com o que é noticiado pela Imprensa britânica, tornou ainda mais difícil atrair e manter profissionais provenientes da União Europeia (UE).
Embora o Governo indique que, atualmente, existem mais 34 100 médicos e 44 800 enfermeiros a trabalhar no NHS do que em 2010, os administradores dos maiores hospitais do Reino Unido alegam que as equipas existentes não têm capacidade para dar resposta ao crescente número de pacientes, consequência de uma população cada vez mais envelhecida.
Pouco mais de dois meses após chegar à liderança do Executivo, Rishi Sunak garantiu, na primeira mensagem de Ano Novo enquanto primeiro-ministro, que o Governo já tinha agilizado "ações decisivas" e mobilizado "recursos recordes" para lidar com a pressão do NHS. Recentemente, o número 10 de Downing Street rejeitou, no entanto, os aumentos salariais exigidos pelos enfermeiros, numa altura em que a inflação no Reino Unido se encontra acima dos 10%.
Os conservadores no poder atribuem os problemas no sistema nacional de saúde às consequências da pandemia e às doenças da época, mas não se livram das críticas da Oposição. O ministro-sombra trabalhista para a Saúde, Wes Streeting, defende que a culpa da avalanche na área da Saúde é dos "mais de 12 anos da má administração" dos tories, apelando à aprovação de um plano de saúde de emergência.
Dados
9500 profissionais do NHS
estavam, no início desta semana, ausentes do local de trabalho devido ao facto de estarem infetados com covid-19, informa a BBC. Ainda este mês, o caos no sistema nacional de saúde britânico pode piorar, uma vez que os enfermeiros têm uma nova greve agendada para os dias 18 e 19 de janeiro.
15,9 mil milhões de euros
é o valor que o Executivo britânico prevê gastar nos próximos dois anos em financiamento adicional para a saúde e assistência social.