Milhares de migrantes da América Central decidiram esta sexta-feira deixar a Cidade do México em direção a Tijuana, no norte, optando pela rota mais longa, mas mais segura para os Estados Unidos, segundo os organizadores da caravana.
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A decisão foi tomada na quinta-feira à noite, no estádio da Cidade do México, onde cerca de 5 mil migrantes passaram os últimos dias a descansar, receberam tratamento médico e discutiram qual a melhor opção para continuar o percurso.
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A decisão surge pouco depois de os representantes da caravana se terem encontrado com responsáveis do escritório local das Nações Unidas, a quem pediram autocarros para os levar até à fronteira.
O coordenador Milton Benitez disse que as Nações Unidas ofereceram autocarros para transportar mulheres e crianças, mas os organizadores pediram que o transporte incluísse toda a gente.
"Isto é uma crise humanitária e eles estão a ignorá-la", disse Benitez à entrada para a reunião.
A informação não foi ainda confirmada por representantes das Nações Unidas.
Os migrantes esperam que os autocarros possam chegar, mas decidiram deixar a cidade mesmo que não cheguem.
Hoje de manhã, um primeiro grupo de 200 migrantes desvinculou-se da caravana e apanhou o metro para os arredores da cidade para continuar a jornada para norte.
O grupo seguiu em composições especiais e foi escoltado pela polícia.
"Estamos todos doentes por causa do frio e da humidade"
Eddy Rivera, um trabalhador de 37 anos de Cortes, Honduras, disse, citado pelas agências internacionais, que não suportava permanecer no complexo desportivo.
"Estamos todos doentes por causa do frio e da humidade. Queremos ir embora, queremos chegar a Tijuana", disse Rivera, que deixou os três filhos e a mulher nas Honduras e quer conseguir dinheiro para construir uma casa.
"Deus, por favor, faz com que os autocarros cheguem, mas se não chegarem, iremos a pé", disse Delia Murillo, uma mãe solteira de 18 anos, que deixou a filha nas Honduras por recear pela sua segurança durante o caminho.
"Não haverá autocarros", assegura Hector Wilfredo Rosales, eletricista, 46 anos, natural de Olancho, nas Honduras, que viaja com o genro.
"Mentiram-nos muito, mas vamos continuar a caminhar como temos feito até aqui", acrescentou.
"Califórnia é o caminho mais longo, mas é a melhor fronteira"
A Cidade do México está a cerca de 900 quilómetros da fronteira mais próxima com os Estados Unidos, a passagem de McAllen, no Texas, e uma caravana anterior optou pela rota mais longa de Tijuana e com vista à fronteira de San Diego.
"Califórnia é o caminho mais longo, mas é a melhor fronteira, enquanto o Texas é mais perto, mas a pior", disse Jose Luis Fuentes, do National Lawyers Guild.
A caravana de migrantes começou o percurso em direção aos Estados Unidos há mais de três semanas e tornou-se num dos principais temas da campanha para as eleições intercalares de terça-feira nos Estados Unidos.
O México ofereceu refúgio, asilo e vistos de trabalho aos migrantes e o Governo mexicano informou que foram emitidos 2.697 vistos temporários enquanto aguardam pelo fim do processo de 45 dias para um estatuto mais permanente.
A maioria dos migrantes pretende continuar a caminho dos Estados Unidos e apenas um número reduzido concordou em regressar aos seus países de origem.
Cerca de 85% dos migrantes são das Honduras, enquanto outros são de países como a Guatemala, El Salvador e Nicarágua.